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— É bem feiozinho, benza-o Deus! o tal teu amigo!... disse o barão ao filho, enquanto André se afastava para ir buscar a sua trouxa.
— Sim, mas um belo rapaz, respondeu Teobaldo. Tem por mim uma cega dedicação.
— Embora! É muito antipático! Está sempre a olhar tão desconfiado para a gente!... E parece mudo - só me respondeu com a cabeça e com os ombros às perguntas que lhe fiz.
— É assim com todos.
— Nem sei como vocês se fizeram amigos. Então tu, que, segundo me disse ainda há pouco o Mosquito, não te chegas muito para os teus colegas.
— Só me chego para o Coruja. É o único.
Coitado! O reverendo, ao que parece, não morre de amores por ele; nem à mão de Deus Padre queria carregá-lo para casa.
— Um mau sujeito, o tal reverendo!
— Mas, com certeza não foi por maldade que o recolheu à sua proteção.
— Não sei. Talvez!...
Emílio olhou mais atentamente para o filho e disse sorrindo:
— Tens as vezes coisas que me surpreendem. Com quem aprendeste tu a desconfiar desse modo dos teus semelhantes?
— Contigo. Não me tens dito tantas vezes que gente deve desconfiar de todo o mundo?
— Para não sofrer decepções a cada passo.. exato!
— E que, no caso de erro, é preferível sempre nos enganarmos contra, do que a favor de quem quer que seja!...
— De certo. O homem deve sempre colocar-se superior a tudo e fazer por dominar a todos. O mundo meu filho, compõe-se apenas de duas classes - a dos fortes e a dos fracos; os fortes governam, os outros obedecem. Ama aos teus semelhantes, mas não tanto como a ti mesmo, e entre amar e ser amado, prefere sempre o último; da mesma forma que deves preferir sempre - dar, a pedir, principalmente se o obséquio for de dinheiro.
— Achas mau que eu seja amigo do Coruja?
— Ao contrário, acho excelente. Essa escolha, entre tantos colegas mais bem parecidos, confirma o bom juízo que faço do teu orgulho, e mostra que tens sabido aproveitar-te dos meus conselhos.
— Não compreendo.
— Também ainda é cedo para isso. É preciso dar tempo ao tempo.
O Coruja reapareceu sobraçando a sua pequena mala de couro cru.
— Pronto? perguntou-lhe Teobaldo.
O outro meneou a cabeça, afirmativamente.
— Pois então a caminho! exclamou Emílio, descendo a escada na frente dos rapazes.
Um carro os esperava à porta do colégio; o cocheiro tomou conta das bagagens; Emílio fez subir os dois meninos e sentou-se defronte deles.
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Teobaldo passou dos braços da mãe para os da tia, que não menos o idolatrava, apesar de ser um tanto resingueira de gênio.
— O nosso morgado traz-lhe um hóspede! declarou o barão, empurrando brandamente o Coruja para junto das senhoras É aquele amigo de que ele fala nas cartas. Vem fazer-lhe companhia durante as férias.
André, muito atrapalhado de sua vida, porque jamais se vira em tais situações, quando deu por si estava nos braços da mãe do seu amigo e recebia um beijo na testa.
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Depois de sua mãe ninguém mais o beijara. E Santa, sem saber, acabava de abrir o coração do desgraçado um sulco luminoso, que penetrava até às suas mais fundas reminiscências da infância.
— Este menino está chorando! considerou D. Geminiana, que até aí observara o Coruja como quem contempla um bicho raro.
— Que tens tu? perguntou Teobaldo ao amigo.
— Nada, respondeu este, limpando as lágrimas na manga da jaqueta.
E o seu gesto era tão desgracioso, coitadinho, que todos, à exceção de Santa, puseram-se a rir.
— Não é nada, com efeito! A comoção talvez!... exclamou Emílio, batendo levemente nas costas de André. - Há muito tempo que não se vê entre família! Daqui a pouco nem se lembrará que chorou,.. Não é verdade, amiguinho?
O Coruja disse que sim, enterrando a cabeça nos ombros.
— Mas, vamos para cima, que eu estou morrendo por comer! protestou Teobaldo, passando os braços em volta da cinta das duas senhoras e obrigando-as a acompanhá-lo.
Assim subiram a pequena alameda de mangueiras que conduzia à casa e, dentro em pouco, penetravam todos na sala de jantar.
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