O Coruja/I/IX: diferenças entre revisões

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Foi com a alma banhada pelos eflúvios da felicidade de Teobaldo que o pobre Coruja ouviu palpitar entre essas duas criaturas as seguintes palavras, mais ternas e harmoniosas que um diálogo de beijos:
 
— Amas-me muito, meu filho?
 
— Eu te adoro, minha Santa.
 
— E nunca te esquecerás de mim?
 
— Juro-te que nunca.
 
— Nem mesmo depois de eu ter morrido?
 
— Nem mesmo depois de teres ido para o céu.
 
— E sabes tu, meu filho, o muito que te quero?
 
— Queres-me tanto quanto eu a ti.
 
— E sabes quanto sofreria tua mãe se por instantes te esquecesses dela?
 
— Não, porque não sei como possa a gente se esquecer de ti.
 
— E, quando fores completar os teus estudos na corte, juras que..
 
Não pode ir adiante. A idéia da separação que já se avizinhava a passos largos, tolheu-lhe a fala com uma explosão de soluços.
 
— Então, Santa, então, que é isso? murmurou Teobaldo, erguendo-se e chamando para sobre o seu peito a cabeça da baronesa - Não chores! não te mortifiques!...
 
Emílio acudiu logo, afastou o filho com um gesto e, tomando o lugar deste, segredou ao ouvido da esposa:
 
— Vamos, minha amiga, nada de loucuras!...
 
— Não posso conformar-me com a idéia de que Teobaldo torna a separar-se de mim...
 
— Bem sabes que é indispensável...
 
— Perdoa-me. Ninguém melhor do que eu aprecia os teus atos e as tuas intenções. Sei que ele precisa fazer um futuro condigno do seu talento; sei que não podemos acompanhá-lo de perto, não podemos morar na corte, porque as nossas condições de fortuna já não...
 
— Santa! olha que te podem ouvir!...
 
— Não me conformo com esta separação! É talvez um pressentimento infundado; é talvez loucura, como dizes, mas não está em minhas mãos; sou mãe, e ele é tão digno de ser amado.
 
— Mas, valha-me Deus! não é uma separação eterna...
 
— Não sei! É que uma terrível idéia me preocupa. Afigura-se-me que nunca mais o tornarei a ver!... Oh! nem quero pensar nisto!
 
E os soluços transbordaram-lhe de novo, ainda com mais ímpeto que da primeira vez.
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E essa voz lhe dizia:
 
— Pois bem, miserável! ingrato! tu, que és órfão; tu que não tens onde cair morto; tu, que és feio, que és o Coruja; tu, que não tens nenhum dote brilhante, que não és distinto, nem espirituoso, nem possuis mérito de espécie alguma; tu, mal agradecido! - és amado por Teobaldo, que dispõe de tudo isso à larga e que te faz penetrar sua sombra no santuário de corações onde nunca penetrarias sem ele.
 
E o Coruja, saindo da sala para respirar lá fora mais à vontade, pôs-se a caminhar, a caminhar à toa entre as sombras das árvores, sentindo-se arrebatado por um inefável desejo de ser bom, um desejo de ser eternamente grato a quem, possuindo todas as riquezas, o escolhia para seu íntimo, para seu irmão - a ele, que nada possuía sobre a terra.