O Coruja/III/VIII: diferenças entre revisões

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Aguiar fez conduzir o carro pela rua dos fundos da casa e apeou-se defronte de um portão, dizendo à prima:
 
— Entre sem receio.
 
— Mas...
 
— Calculando a sua vinda, dei todas as providências para que nada nos estorvasse.
 
— Como?
 
— A sala, onde seu marido há de estar com a sujeita, tem uma janela que despeja para aqueles lados.
 
— Ah!
 
— Essa janela parece dar simplesmente para a montanha, mas tanto dá para a tal montanha como para um pequeno terraço que existe perto dela, meio oculto pela folhagem de algumas árvores.
 
— Um terraço?
 
— Sim. E é ali que os vamos observar.
 
— E se a janela estiver fechada?
 
— Tão tolo não era eu que consentisse em tal...
 
— Como assim?
 
— Ora, preguei muito de propósito as folhas da janela contra a parede. Além disso, eles não terão empenho em fechá-la, não só porque nem sequer desconfiam de que possam ser espreitados, como também abafariam de calor. Só por essa janela entra o ar no quarto.
 
Branca deixou-se conduzir até ao terraço; o primo a seguiu, afetando o maior acatamento e o mais solícito respeito.
 
— Eis a janela, segredou ele ao ouvido da prima.
 
E apontou para uma janela que de fato estava aberta, deixando devassar parte de uma boa sala bem guarnecida e bem iluminada. Sobre a mesa do centro via-se um grande véu preto, de mulher, ao lado de uma bolsa e mais um chapéu de homem e uma bengala.
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Branca reconheceu estes dois últimos objetos, mas não disse uma palavra.
 
— Venha agora para esta outra banda... segredou-lhe de novo o rapaz, tomando-a delicadamente pela mão e conduzindo-a à extremidade oposta do terraço.
 
Ao chegar aí, ela sentiu um choque mais violento e amparou-se contra o ombro do primo, escondendo o rosto nas mãos e chorando.
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Branca enxugou as lágrimas, puxou de novo sobre o rosto a sua capa, que ela havia afastado para melhor ver, e com um gesto pediu ao primo que a acompanhasse.
 
— Agora está convencida?... perguntou este meigamente.
 
— Estou. Obrigada.
 
E ela tomou a direção da saída do terraço.
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Ah! ele conhecia perfeitamente o caráter orgulhoso da prima; tinha plena certeza de que a comoveria muito mais resistindo ao desejo de aproveitar aquela ocasião do que lhe caindo aos pés com uma declaração de amor.
 
— Nada de precipitar os acontecimentos... considerou, resolvido a esperar que o dia da sua felicidade chegasse por si.
 
Foi, pois, com todo o respeito que ele seguiu a prima, dando-lhe a mão quando era preciso descer algum degrau, afastando solicitamente os galhos das roseiras, quando atravessaram o jardim, e afinal conduzindo-a até a carruagem e perguntando-lhe, com a cabeça descoberta, o ar muito sério, se ela queria que ele a acompanhasse a casa.
 
— Não, obrigada; não há necessidade disso. Adeus.
 
E Branca, estendeu-lhe a mão, que Aguiar beijou com toda a cortesia:
 
— Olhe, ouça, ia a dizer o rapaz; mas, nessa ocasião, um vulto de mulher, que saíra da sombra da rua, assomara pelo lado oposto da carruagem e, metendo a cabeça na portinhola, dissera claro:
 
— Bom! É quanto me basta ver! Estou satisfeita!
 
Branca retraiu-se no fundo do carro, soltando um pequeno grito assustado, enquanto Aguiar, que havia reconhecido a outra, ordenou ao cocheiro que seguisse, e foi ter com ela.
 
— Ora, Leonília, que imprudência a tua!...
 
— Não! deves dizer antes "Que felicidade!" Não imaginas quanto estou satisfeita!
 
[[Categoria:O Coruja|Terceira Parte, Capítulo 08]]