O Coruja/III/XX: diferenças entre revisões

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Oh! aquela mania de quebrar a louça era o que mais enraivecia a velha.
 
— Mas o grande causador de tudo isto, exclamava ela, é aquela peste daquele Coruja! Se não fosse ele, eu não teria agora de aturar este bêbado! Se não fosse ele Inez não teria casado com semelhante homem e não estaria com um filho às costas e outro no bucho!
 
E naquela casa o Coruja ficou sendo o termo de comparação para tudo o que havia de mal ou feio ou repugnante.
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E, quando Inez fazia recriminações ao marido, este lhe atirava logo em rosto com o nome do outro:
 
— E, dizia ele, com a sua voz cavernosa de ébrio, você nunca devia ter-se casado senão com aquele coxo! Estavam mesmo talhados um para o outro! Asno fui eu em meter-me neste inferno e ligar-me a semelhante gentinha! Não solto um espirro, que logo não me queiram tomar contas porque espirrei - é o que se pode chamar "não ser senhor do seu nariz!" Aqui todos querem mandar sobre mim - é mulher, é sogra, é o diabo! Ah! mas um dia cismo deveras e vai tudo raso, faço uma tal estralada que vai tudo de pernas para o ar! Mexam muito comigo e verão!
 
E, depois de sacudir os braços e repelir do pulmão o ar alcoolizado:
 
— Caramba! Quero saber se tenho de dar contas de meus atos a safardana algum desta vida!
 
— Pois então não se casasse!. .. arriscava Inez.
 
— Ah! Se eu pudesse adivinhar, decerto! antes de tudo a minha liberdade! Agora já nem com o que eu ganho posso contar!
 
— Quem o ouvisse havia de supor que lhe custamos muita coisa! Olha a graça! Depois do tal casamento é preciso puxar aqui muito mais pela agulha e pelo ferro de engomar!
 
— Ó raio de uma fúria! berrava afinal o Picuinha, se não calas essa boca do diabo, racho-te de meio a meio!
 
— Também é só para que você presta, casta de um bêbado!
 
— É! O Coruja havia de prestar para muito mais!
 
— E talvez que sim!
 
— Bem, mas basta! Estou farto! Arre!
 
D. Margarida em geral só se metia nestas polêmicas de Inez e Picuinha, quando a contenda chegava ao auge, e então é que era barulho!
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E que não lhe apresentassem na manhã seguinte a calça engomada e a camisa limpa, que haviam de ver o bom e o bonito!
 
— Ah! dizia a velha, aquele malvado, cortado em pedacinhos e posto em salmoura, ainda não pagava a metade do mal que nos tem feito!
 
Este malvado, a quem ela se referia, não era o alferes, era o Coruja.
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E, logo que a mulher ou a sogra, depois de uma terrível luta com o alferes, conseguiam descobrir e arrancar-lhe o dinheiro, o homem ficava possesso.
 
— Ladras! berrava ele quase sem abrir os olhos! ladras! Não posso ter um vintém que não mo roubem!
 
O Picuinha afinal caiu nesse estado mórbido das pessoas inutilizadas pela bebida e do qual, como os trabalhadores das minas de mercúrio, só conseguem fugir por instantes refugiando-se no próprio veneno que os corrompe e mata.