Em Tradução:A Lei: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Sem resumo de edição
Linha 10:
* Castelhano: [http://www.elcato.org/bastiat_laley.htm Bastiat.org]
 
Note que a tradução de cada parágrafo segue-se ao parágrafo original. O texto original distingue-se da tradução por ter <font color=red>cor vermelha</font>.
 
=La Loi=
 
=A Lei
<font color=red>La loi pervertie! La loi — et à sa suite toutes les forces collectives de la nation, — la Loi, dis-je, non seulement détournée de son but, mais appliquée à poursuivre un but directement contraire! La Loi devenue l'instrument de toutes les cupidités, au lieu d'en être le frein! La Loi accomplissant elle-même l'iniquité qu'elle avait pour mission de punir! Certes, c'est là un fait grave, s'il existe, et sur lequel il doit m'être permis d'appeler l'attention de mes concitoyens.</font>
 
 
 
A lei pervertida! A lei – e por conseguinte todas as forças colectivas da nação, – a Lei, digo eu, não somente desviada do seu fim, mas aplicada a perseguir um objectivo completamente contrário! A Lei tornada instrumento de toda a espécie de cupidez, em vez de ser o seu freio! A Lei conseguindo a iniquidade que tem por missão punir! Certamente, é um facto grave, se existir, e sobre o qual deverei chamar à atenção dos meu compatriotas.
 
 
<font color=red>Nous tenons de Dieu le don qui pour nous les renferme tous, la Vie, — la vie physique, intellectuelle et morale. Mais la vie ne se soutient pas d'elle-même. Celui qui nous l'a donnée nous a laissé le soin de l'entretenir, de la développer, de la perfectionner.</font>
 
Nós recebemos de Deus um dom que, para nós, engloba todos os outros: a Vida – a vida física, intelectual, e moral. Mas a vida não se mantém por si só. Aquele que nos deu a vida deixou aos nossos cuidados o seu suporte, desenvolvimento, e o seu aperfeiçoamento.
 
 
<font color=red>Pour cela, il nous a pourvus d'un ensemble de Facultés merveilleuses; il nous a plongés dans un milieu d'éléments divers. C'est par l'application de nos facultés à ces éléments que se réalise le phénomène de l' ''Assimilation'', de l' ''Appropriation'', par lequel la vie parcourt le cercle qui lui a été assigné.</font>
 
Para isso, ele proveu-nos de um conjunto de faculdades maravilhosas; mergulhou-nos num meio de diversos elementos. É pela aplicação das nossas faculdades a esses elementos que se realiza o fenómeno da ''Assimilação'', da ''Apropriação'', pela qual a vida percorre o círculo que lhe foi consignado.
 
 
<font color=red>Existence, Facultés, Assimilation — en d'autres termes, Personnalité, Liberté, Propriété, — voilà l'homme.</font>
 
Existência, Faculdades, Assimilação – ou, por outras palavras, Personalidade, Liberdade, Propriedade – eis o Homem.
 
 
<font color=red>C'est de ces trois choses qu'on peut dire, en dehors de toute subtilité démagogique, qu'elles sont antérieures et supérieures à toute législation humaine.</font>
 
São destas três coisas que se pode dizer, à parte de qualquer subtileza demagógica, que são anteriores e superiores a toda legislação humana.
 
 
<font color=red>Ce n'est pas parce que les hommes ont édicté des Lois que la Personnalité, la Liberté et la Propriété existent. Au contraire, c'est parce que la Personnalité, la Liberté et la Propriété préexistent que les hommes font des Lois.</font>
 
Não é porque os homens estabeleceram Leis que a Personalidade, a Liberdade, e a Propriedade existem. Pelo contrário, é porque a Personalidade, a Liberdade, e a Propriedade preexistem que os homens fizeram Leis.
 
 
<font color=red>Qu'est-ce donc que la Loi? Ainsi que je l'ai dit ailleurs, c'est l'organisation collective du Droit individuel de légitime défense.</font>
 
Portanto, o que é a Lei? Como já disse noutro lugar, é a organização colectiva do Direito individual de legitima defesa.
 
 
<font color=red>Chacun de nous tient certainement de la nature, de Dieu, le droit de défendre sa Personne, sa Liberté, sa Propriété, puisque ce sont les trois éléments constitutifs ou conservateurs de la Vie, éléments qui se complètent l'un par l'autre et ne se peuvent comprendre l'un sans l'autre. Car que sont nos Facultés, sinon un prolongement de notre Personnalité, et qu'est-ce que la Propriété si ce n'est un prolongement de nos Facultés?</font>
 
Cada um de nós recebeu da natureza, de Deus, o direito de defender a sua Pessoa, a sua Liberdade, a sua Propriedade, pois são estes os três elementos constituintes ou conservadores da Vida; elementos que se complementam mutuamente e que não podem ser entendidos separadamente. Pois que são as nossas Faculdades, senão um prolongamento da nossa Personalidade; e o que é a Propriedade senão uma extensão das nossas Faculdades?
 
 
<font color=red>Si chaque homme a le droit de défendre, même par la force, sa Personne, sa Liberté, sa Propriété, plusieurs hommes ont le Droit de se concerter, de s'entendre, d'organiser une Force commune pour pourvoir régulièrement à cette défense.</font>
 
Se cada homem tem o direito de defender, mesmo que seja pela força, a sua Pessoa, a sua Liberdade, a sua Propriedade, vários homens têm o Direito de se juntarem, de se entenderem, de organizar uma Força comum para providenciarem regularmente esta defesa.
 
 
 
<font color=red>Le Droit collectif a donc son principe, sa raison d'être, sa légitimité dans le Droit individuel; et la Force commune ne peut avoir rationnellement d'autre but, d'autre mission que les forces isolées auxquelles elle se substitue.</font>
 
O Direito colectivo tem, portanto, o seu princípio, a sua razão de ser, a sua legitimidade, no Direito individual; e a Força comum não poderá ter racionalmente outro fim, outra missão, do que as forças isoladas que substitui.
 
 
 
<font color=red>Ainsi, comme la Force d'un individu ne peut légitimement attenter à la Personne, à la Liberté, à la Propriété d'un autre individu, par la même raison la Force commune ne peut être légitimement appliquée à détruire la Personne, la Liberté, la Propriété des individus ou des classes.</font>
 
Assim como a Força de um indivíduo não pode legitimamente atentar contra a Pessoa, a Liberdade, a Propriedade de outro indivíduo, pela mesma razão a Força comum não poderá ser aplicada legitimamente para destruir a Pessoa, a Liberdade, a Propriedade de indivíduos ou de classes.
 
 
<font color=red>Car cette perversion de la Force serait, en un cas comme dans l'autre, en contradiction avec nos prémisses. Qui osera dire que la Force nous a été donnée non pour défendre nos Droits, mais pour anéantir les Droits égaux de nos frères? Et si cela n'est pas vrai de chaque force individuelle, agissant isolément, comment cela serait-il vrai de la force collective, qui n'est que l'union organisée des forces isolées? </font>
 
Pois esta perversão da Força estaria, tanto num caso como noutro, em contradição com as nossas premissas. Quem ousará dizer que a Força nos foi dada, não para defender os nossos Direitos, mas para aniquilar os iguais Direitos dos nossos irmãos? E se tal não é verdade para cada força individual, agindo isoladamente, como será verdade para a força colectiva, que não é mais que a união organizada das forças isoladas?
 
 
 
<font color=red>Donc, s'il est une chose évidente, c'est celle-ci: La Loi, c'est l'organisation du Droit naturel de légitime défense; c'est la substitution de la force collective aux forces individuelles, pour agir dans le cercle où celles-ci ont le droit d'agir, pour faire ce que celles-ci ont le droit de faire, pour garantir les Personnes, les Libertés, les Propriétés, pour maintenir chacun dans son Droit, pour faire régner entre tous la '''Justice'''.</font>
 
Portanto, se uma coisa é evidente, é isto: A Lei é a organização do Direito natural de legitima defesa; é a substituição da força colectiva pelas forças individuais, para agir dentro da esfera onde têm o direito de agir, para fazer o que têm o direito de fazer, para garantir as Pessoas, as Liberdades, as Propriedades, para manter cada um no seu Direito, para fazer reinar entre todos a '''Justiça'''.
 
 
 
<font color=red>Et s'il existait un peuple constitué sur cette base, il me semble que l'ordre y prévaudrait dans les faits comme dans les idées. Il me semble que ce peuple aurait le gouvernement le plus simple, le plus économique, le moins lourd, le moins senti, le moins responsable, le plus juste, et par conséquent le plus solide qu'on puisse imaginer, quelle que fût d'ailleurs sa forme politique.</font>
 
E se existisse um povo constituído sobre esta base, parece-me que a ordem prevaleceria tanto nos feitos como nas ideias. Parece-me que esse povo teria o governo mais simples, mais económico, menos pesado, menos notado, o menos responsável, o mais justo, e, por conseguinte, o mais sólido que poderíamos imaginar, qualquer que seria a sua forma política.
 
 
 
<font color=red>Car, sous un tel régime, chacun comprendrait bien qu'il a toute la plénitude comme toute la responsabilité de son Existence. Pourvu que la personne fût respectée, le travail libre et les fruits du travail garantis contre toute injuste atteinte, nul n'aurait rien à démêler avec l'État. Heureux, nous n'aurions pas, il est vrai, à le remercier de nos succès; mais malheureux, nous ne nous en prendrions pas plus à lui de nos revers que nos paysans ne lui attribuent la grêle ou la gelée. Nous ne le connaîtrions que par l'inestimable bienfait de la '''Sûreté'''.</font>
 
Pois sob tal regime cada um compreenderia que tem toda a plenitude como toda a responsabilidade da sua Existência. Desde que a pessoa fosse respeitada, o trabalho livre e os frutos do trabalho garantidos contra todo ataque injusto, ninguém teria nada a tratar com o Estado. Afortunados, não teríamos necessidade de lhe agradecer pelo nosso sucesso; mas na infelicidade, não lhe poderíamos atribuir nossas maleitas, tal como nossos camponeses não lhe atribuem o granizo e a geada. Não lhe conheceríamos senão pelo inestimável benefício da '''Segurança'''.
 
 
<font color=red>On peut affirmer encore que, grâce à la non-intervention de l'État dans des affaires privées, les Besoins et les Satisfactions se développeraient dans l'ordre naturel. On ne verrait point les familles pauvres chercher l'instruction littéraire avant d'avoir du pain. On ne verrait point la ville se peupler aux dépens des campagnes, ou les campagnes aux dépens des villes. On ne verrait pas ces grands déplacements de capitaux, de travail, de population, provoqués par des mesures législatives, déplacements qui rendent si incertaines et si précaires les sources mêmes de l'existence, et aggravent par là, dans une si grande mesure, la responsabilité des gouvernements.</font>
 
Podemos ainda afirmar que, graças à não-intervenção do Estado nos assuntos privados, as Necessidades e Satisfações se desenvolveriam na sua ordem natural. Não se veriam as famílias pobres procurando instrução literária antes de terem pão. Não veríamos as cidades povoarem-se às custas do campo, nem os campos às custas das cidades. Não veríamos grandes deslocamentos de capital, de trabalho, de população, provocados por medidas legislativas, deslocamentos que rendem tão precárias e incertas as próprias fontes da existência, agravando-se em tão grande medida a responsabilidade dos governos.
 
 
<font color=red>Par malheur, il s'en faut que la Loi se soit renfermée dans son rôle. Même il s'en faut qu'elle ne s'en soit écartée que dans des vues neutres et discutables. Elle a fait pis: elle a agi contrairement à sa propre fin; elle a détruit son propre but; elle s'est appliquée à anéantir cette Justice qu'elle devait faire régner, à effacer, entre les Droits, cette limite que sa mission était de faire respecter; elle a mis la force collective au service de ceux qui veulent exploiter, sans risque et sans scrupule, la Personne, la Liberté ou la Propriété d'autrui; elle a converti la Spoliation en Droit, pour la protéger, et la légitime défense en crime, pour la punir. </font>
 
Infelizmente, a Lei está longe de estar limitada ao seu papel. Não saiu do seu âmbito apenas em casos neutros e discutíveis. Fez algo pior: agiu contrariamente ao seu próprio fim; destruiu o seu objectivo; foi aplicado na aniquilação da Justiça que deveria fazer reinar; a apagar, entre os Direitos, aquele limite que era sua missão respeitar; pôs a força colectiva ao serviço daqueles que querem explorar, sem riscos e sem escrúpulos, a Pessoa, a Liberdade, ou a Propriedade doutrem; converteu a Espoliação, para a proteger, em Direito, e a legitima defesa, para a punir, em crime.
 
 
<font color=red>Comment cette perversion de la Loi s'est-elle accomplie? Quelles en ont été les conséquences?</font>
 
Como se conseguiu esta perversão da Lei? Quais foram as consequências que daí advieram?
 
 
<font color=red>La Loi s'est pervertie sous l'influence de deux causes bien différentes: l'égoïsme inintelligent et la fausse philanthropie.</font>
 
A Lei foi pervertida sob a influência de duas causas bem distintas: o egoísmo desinteligente e a falsa filantropia.
 
 
 
<font color=red>Parlons de la première.</font>
 
Falemos do primeiro.
 
 
 
<font color=red>Se conserver, se développer, c'est l'aspiration commune à tous les hommes, de telle sorte que si chacun jouissait du libre exercice de ses facultés et de la libre disposition de leurs produits, le progrès social serait incessant, ininterrompu, infaillible.</font>
 
A aspiração comum a todos os homens é a auto-preservação e o desenvolvimento, de tal forma que se cada um gozasse do livre exercício das suas faculdades e da livre disposição dos seus produtos, o progresso social seria incessante, ininterrupto, e infalível.
 
 
<font color=red>Mais il est une autre disposition qui leur est aussi commune. C'est de vivre et de se développer, quand ils le peuvent, aux dépens les uns des autres. Ce n'est pas là une imputation hasardée, émanée d'un esprit chagrin et pessimiste. L'histoire en rend témoignage par les guerres incessantes, les migrations de peuples, les oppressions sacerdotales, l'universalité de l'esclavage, les fraudes industrielles et les monopoles dont ses annales sont remplies.</font>
 
Todavia, existe outra disposição que lhes é comum. É a de viverem e desenvolverem, quando puderem, uns às custas de outros. Não é uma imputação arriscada, emanada de um espírito desgostoso e pessimista. A história presta testemunho a tal pelas guerras incessantes, pelas migrações de povos, pelas opressões sacerdotais, pela universalidade da escravatura, das fraudes industriais, e dos monopólios dos quais os anais estão repletos.
 
 
<font color=red>Cette disposition funeste prend naissance dans la constitution même de l'homme, dans ce sentiment primitif, universel, invincible, qui le pousse vers le bien-être et lui fait fuir la douleur.</font>
 
Esta disposição funesta nasce da própria constituição do homem, desse sentimento primitivo, universal, e invencível que o impele para o bem-estar e lhe faz fugir da dor.
 
 
<font color=red>L'homme ne peut vivre et jouir que par une assimilation, une appropriation perpétuelle, c'est-à-dire par une perpétuelle application de ses facultés sur les choses, ou par le travail. De là la Propriété. </font>
 
O homem não pode viver e desfrutar senão por uma assimilação, uma apropriação, perpétua, isto é, por uma aplicação contínua das suas faculdades sobre as coisas, ou pelo trabalho. Daqui, a Propriedade.
 
 
 
<font color=red>Mais, en fait, il peut vivre et jouir en s'assimilant, en s'appropriant le produit des facultés de son semblable. De là la Spoliation. </font>
 
Mas, é certo, ele também pode viver e desfrutar assimilando, apropriando, os produtos das faculdades dos seus semelhantes. Daqui, a Espoliação.
 
 
 
<font color=red>Or, le travail étant en lui-même une peine, et l'homme étant naturellement porté à fuir la peine, il s'ensuit, l'histoire est là pour le prouver, que partout où la spoliation est moins onéreuse que le travail, elle prévaut; elle prévaut sans que ni religion ni morale puissent, dans ce cas, l'empêcher.</font>
 
Ora, sendo o trabalho em si um sofrimento, e estando o homem naturalmente disposto a fugir do sofrimento, segue-se – e a história comprova-o – que, onde quer que a espoliação seja menos onerosa que o trabalho, é esta que prevalece; e prevalece, neste caso, sem que a religião nem a moral a consigam impedir.
 
 
 
<font color=red>Quand donc s'arrête la spoliation? Quand elle devient plus onéreuse, plus dangereuse que le travail. </font>
 
Onde se detém a espoliação, portanto? Quando se torna mais onerosa, mais perigosa, que o trabalho.
 
 
<font color=red>Il est bien évident que la Loi devrait avoir pour but d'opposer le puissant obstacle de la force collective à cette funeste tendance; qu'elle devrait prendre parti pour la propriété contre la Spoliation. </font>
 
É bem evidente que a Lei deveria ter como finalidade opor o poderoso obstáculo da força colectiva contra esta tendência fatal; que deveria tomar o partido da propriedade contra a Espoliação.
 
 
 
<font color=red>Mais la Loi est faite, le plus souvent, par un homme ou par une classe d'hommes. Et la Loi n'existant point sans sanction, sans l'appui d'une force prépondérante, il ne se peut pas qu'elle ne mette en définitive cette force aux mains de ceux qui légifèrent.</font>
 
Mas a lei é feita, geralmente, por um homem ou por uma classe de homens. E sendo que a lei não existe sem a sanção, sem o apoio, de uma força preponderante, não poderá ser doutra forma senão essa força ficar nas mãos daqueles que legislam.
 
 
 
<font color=red>Ce phénomène inévitable, combiné avec le funeste penchant que nous avons constaté dans le cœur de l'homme, explique la perversion à peu près universelle de la Loi. On conçoit comment, au lieu d'être un frein à l'injustice, elle devient un instrument et le plus invincible instrument d'injustice. On conçoit que, selon la puissance du législateur, elle détruit, à son profit, et à divers degrés, chez le reste des hommes, la Personnalité par l'esclavage, la Liberté par l'oppression, la Propriété par la spoliation. </font>
 
Este fenómeno inevitável, combinado com a funesta tendência que constatámos existir no coração do homem, explica a quase universal perversão da Lei. Concebe-se como, ao invés de ser um entrave à injustiça, ela se transforma num instrumento, e o mais invencível instrumento, da injustiça. Concebe-se que, segundo o poder do legislador, ela destrua – em proveito próprio e em grau diferentes, no que diz respeito aos restantes homens – a Personalidade pela escravatura, a Liberdade pela opressão, a Propriedade por espoliação.
 
 
 
<font color=red>Il est dans la nature des hommes de réagir contre l'iniquité dont ils sont victimes. Lors donc que la Spoliation est organisée par la Loi, au profit des classes qui la font, toutes les classes spoliées tendent, par des voies pacifiques ou par des voies révolutionnaires, à entrer pour quelque chose dans la confection des Lois. Ces classes, selon le degré de lumière où elles sont parvenues, peuvent se proposer deux buts bien différents quand elles poursuivent ainsi la conquête de leurs droits politiques: ou elles veulent faire cesser la spoliation légale, ou elles aspirent à y prendre part.</font>
 
Está na natureza dos homens o reagir contra a iniquidade de que sejam vítimas. Assim, portanto, quando a Espoliação está organizada pela lei, em proveito das classes que a ditam, todas as classes espoliadas tendem, por via pacífica ou por via revolucionária, a entrar de alguma maneira no processo de criação das leis. Estas classes, segundo o grau de esclarecimento a que tenha chegado, podem-se propor duas finalidades muito diferentes aquando da perseguição da conquista dos seus direitos políticos: ou querem cessar a espoliação legal, ou aspiram a fazer parte da dita.
 
 
 
<font color=red>Malheur, trois fois malheur aux nations où cette dernière pensée domine dans les masses, au moment où elles s'emparent à leur tour de la puissance législative! </font>
 
Desgraçadas, três vezes desgraçadas as nações onde esta última ideia predomine nas massas no momento em que é chegada a sua vez de se apoderarem do poder legislativo!
 
 
 
<font color=red>Jusqu'à cette époque la spoliation légale s'exerçait par le petit nombre sur le grand nombre, ainsi que cela se voit chez les peuples où le droit de légiférer est concentré en quelques mains. Mais le voilà devenu universel, et l'on cherche l'équilibre dans la spoliation universelle. Au lieu d'extirper ce que la société contenait d'injustice, on la généralise. Aussitôt que les classes déshéritées ont recouvré leurs droits politiques, la première pensée qui les saisit n'est pas de se délivrer de la spoliation (cela supposerait en elles des lumières qu'elles ne peuvent avoir), mais d'organiser, contre les autres classes et à leur propre détriment, un système de représailles, — comme s'il fallait, avant que le règne de la justice arrive, qu'une cruelle rétribution vînt les frapper toutes, les unes à cause de leur iniquité, les autres à cause de leur ignorance.</font>
 
Até esta altura, a espoliação legal era exercida por um pequeno número sobre um grande número, tal como se vê entre os povos onde o direito de legislar está concentrado apenas nas mãos de alguns. Mas tornado universal, procura-se o equilíbrio na espoliação universal. Ao invés de extirpar o que a sociedade tem de injustiça, generalizou-o. Tão cedo como as classes deserdadas recuperaram os seus direitos políticos, o primeiro pensamento que se apoderou deles não foi de se libertarem da espoliação (isso seria supor nelas conhecimentos que não poderiam ter), mas de organizar, contra as outras classes e em seu detrimento, um sistema de represálias – como se fosse necessário, antes do advento do reinado da justiça, que uma cruel retribuição os viesse castigar a todos, uns pela sua iniquidade, outros pela sua ignorância.
 
 
 
<font color=red>Il ne pouvait donc s'introduire dans la Société un plus grand changement et un plus grand malheur que celui-là: la Loi convertie en instrument de spoliation.</font>
 
Não se poderia, portanto, introduzir numa Sociedade uma mudança tão grande e uma maior desgraça que esta: a lei convertida em instrumento de espoliação.
 
 
 
<font color=red>Quelles sont les conséquences d'une telle perturbation. Il faudrait des volumes pour les décrire toutes. Contentons-nous d'indiquer les plus saillantes. </font>
 
Quais são as consequências de semelhante perturbação? Seriam necessários volumes para os descrever a todos. Contentemo-nos com indicar as mais salientes.
 
 
 
<font color=red>La première, c'est d'effacer dans les consciences la notion du juste et de l'injuste.</font>
 
A primeira, é a de apagar das consciências a distinção entre justiça e injustiça.
 
 
<font color=red>Aucune société ne peut exister si le respect des Lois n'y règne à quelque degré; mais le plus sûr, pour que les lois soient respectées, c'est qu'elles soient respectables. Quand la Loi et la Morale sont en contradiction, le citoyen se trouve dans la cruelle alternative ou de perdre la notion de Morale ou de perdre le respect de la Loi, deux malheurs aussi grands l'un que l'autre et entre lesquels il est difficile de choisir.</font>
 
Nenhuma sociedade pode existir se não imperar, em certo grau, o respeito pela Lei; mas para que as leis sejam respeitadas, é necessário que sejam respeitáveis. Quando a Lei e a Moral estão em contradição, o cidadão encontra-se na cruel alternativa ou de perder a noção da Moral, ou de perder o respeito pela Lei – duas desgraças, uma tão grande quanto a outra, e entre as quais é difícil escolher.
 
 
 
<font color=red>Il est tellement de la nature de la Loi de faire régner la Justice, que Loi et Justice, c'est tout un, dans l'esprit des masses. Nous avons tous une forte disposition à regarder ce qui est légal comme légitime, à ce point qu'il y en a beaucoup qui font découler faussement toute justice de la Loi. Il suffit donc que la Loi ordonne et consacre la Spoliation pour que la spoliation semble juste et sacrée à beaucoup de consciences. L'esclavage, la restriction, le monopole trouvent des défenseurs non seulement dans ceux qui en profitent, mais encore dans ceux qui en souffrent. Essayez de proposer quelques doutes sur la moralité de ces institutions. « Vous êtes, dira-t-on, un novateur dangereux, un utopiste, un théoricien, un contempteur des lois; vous ébranlez la base sur laquelle repose la société. » Faites-vous un cours de morale, ou d'économie politique? Il se trouvera des corps officiels pour faire parvenir au gouvernement ce vœu:</font>
 
 
Está de tal forma na natureza da Lei fazer reinar a Justiça, que, no espírito das massas, Lei e Justiça são unos. Temos todos uma forte disposição para considerar o que é legal como sendo legítimo, a tal ponto que muitos derivam, falsamente, toda justiça da Lei. Basta, portanto, que a Lei ordene e consagre a Espoliação, para que a espoliação pareça justa e sagrada a muitas consciências. A escravatura, a restrição, e o monopólio encontram defensores não somente naqueles que deles tiram proveito, mas também naqueles de que deles padecem. Tente expor algumas dúvidas sobre a moralidade dessas instituições. «Sois, dir-lhe-ão, um inovador perigoso, um utopista, um teórico, um despeitador de leis; abalais a base sobre a qual repousa a sociedade.» Lecciona sobre moral, ou economia politica? Aparecerão corpos oficiais para fazer chegar ao governo este pedido:
 
 
 
<font color=red>« Que la science soit désormais enseignée, non plus au seul point de vue du Libre-Échange (de la Liberté, de la Propriété, de la Justice), ainsi que cela a eu lieu jusqu'ici, mais aussi et surtout au point de vue des faits et de la législation (contraire à la Liberté, à la Propriété, à la Justice) qui régit l'industrie française. »</font>
 
«Que a ciência seja doravante ensinada, não somente do ponto de vista do Livre Intercâmbio (da Liberdade, da Propriedade, e da Justiça), como tem sido o caso até agora, mas também e sobretudo do ponto de vista dos feitos e da legislação (contrário à Liberdade, à Propriedade, e à Justiça) que rege a indústria francesa.»
 
 
 
<font color=red>« Que, dans les chaires publiques salariées par le Trésor, le professeur s'abstienne rigoureusement de porter la moindre atteinte au respect dû ''aux lois en vigueur'' [1], etc. »</font>
 
«Que, nas cátedras públicas assalariadas pelo Tesoureiro, o professor se abstenha rigorosamente do menor ataque ao devido respeito das ''leis em vigor''[1], etc.»
 
 
 
<font color=red>En sorte que s'il existe une loi qui sanctionne l'esclavage ou le monopole, l'oppression ou la spoliation sous une forme quelconque, il ne faudra pas même en parler; car comment en parler sans ébranler le respect qu'elle inspire? Bien plus, il faudra enseigner la morale et l'économie politique au point de vue de cette loi, c'est-à-dire sur la supposition qu'elle est juste par cela seul qu'elle est Loi.</font>
 
De tal maneira que, se existir uma lei que sanciona a escravatura ou o monopólio, a opressão ou a espoliação sob uma forma qualquer, não poderá ser mencionada; pois como mencionar sem abalar o respeito que ela inspira? Ainda mais, será necessário ensinar a moral e a economia política do ponto de vista dessa lei, isto é, sob a suposição de que é justa somente por ser Lei.
 
 
<font color=red>Un autre effet de cette déplorable perversion de la Loi, c'est de donner aux passions et aux luttes politiques, et, en général, à la politique proprement dite, une prépondérance exagérée.</font>
 
Um outro efeito desta deplorável perversão da Lei é o de dar às paixões e às lutas políticas, e, em geral, à política propriamente dita, uma preponderância exagerada.
 
 
 
<font color=red>Je pourrais prouver cette proposition de mille manières. Je me bornerai, par voie d'exemple, à la rapprocher du sujet qui a récemment occupé tous les esprits: le suffrage universel.</font>
 
Poderia provar esta proposição de mil maneiras. Limitar-me-ei, por via de exemplo, a relacioná-la com o assunto que recentemente ocupou todos os espíritos: o sufrágio universal.
 
 
<font color=red>Quoi qu'en pensent les adeptes de l'École de Rousseau, laquelle se dit ''très avancée'' et que je crois reculée de vingt siècles, le suffrage ''universel'' (en prenant ce mot dans son acception rigoureuse) n'est pas un de ces dogmes sacrés, à l'égard desquels l'examen et le doute même sont des crimes.</font>
 
Pensem o que pensarem os adeptos da Escola de Rosseau – que se diz ''muito avançada'' e que creio estar vinte séculos atrasada – o sufrágio ''universal'' (tomando a palavra na acepção rigorosa) não é um desses dogmas sagrados, com respeito aos quais mesmo o exame e a dúvida são crimes.
 
 
<font color=red>On peut lui opposer de graves objections.</font>
 
Podem-se-lhe opor graves objecções.
 
 
 
<font color=red>D'abord le mot universel cache un grossier sophisme. Il y a en France trente-six millions d'habitants. Pour que le droit de suffrage fût universel, il faudrait qu'il fût reconnu à trente-six millions d'électeurs. Dans le système le plus large, on ne le reconnaît qu'à neuf millions. Trois personnes sur quatre sont donc exclues et, qui plus est, elles le sont par cette quatrième. Sur quel principe se fonde cette exclusion? sur le principe de l'Incapacité. Suffrage universel veut dire: suffrage universel des capables. Restent ces questions de fait: quels sont les capables? l'âge, le sexe, les condamnations judiciaires sont-ils les seuls signes auxquels on puisse reconnaître l'incapacité?</font>
 
Para começar, a palavra universal esconde um sofisma grosseiro. Há em França trinta e seis milhões de habitantes. Para que o direito de sufrágio fosse universal, teria que ser reconhecido a trinta e seis milhões de eleitores. No sistema mais amplo, não se reconhece senão a nove milhões. Três em cada quatro pessoas estão, portanto, excluídas; e o que é mais importante é que são excluídos por esta quarta. Sobre que princípio está fundado esta exclusão? Sobre o princípio da Incapacidade. Sufrágio universal quer dizer: sufrágio universal dos capazes. Permanecem estas perguntas de facto: quem são os capazes? Acaso a idade, o sexo, ou as condenações judiciais são os únicos signos pelos quais se pode reconhecer a incapacidade?
 
 
 
<font color=red>Si l'on y regarde de près, on aperçoit bien vite le motif pour lequel le droit de suffrage repose sur la présomption de capacité, le système le plus large ne différant à cet égard du plus restreint que par l'appréciation des signes auxquels cette capacité peut se reconnaître, ce qui ne constitue pas une différence de principe, mais de degré.</font>
 
Se visto de perto, rapidamente se apercebe o motivo pelo qual o direito de sufrágio repousa sobre a presunção de capacidade; o sistema mais amplo, nesse respeito, não difere do mais restritivo, que pela apreciação dos signos pelos quais essa capacidade se pode reconhecer; o que não constitui uma diferença de princípio, mas sim de grau.
 
 
<font color=red>Ce motif, c'est que l'électeur ne stipule pas pour lui, mais pour tout le monde.</font>
 
O motivo está em que o eleitor não estipula por si, mas por todos.
 
 
 
<font color=red>Si, comme le prétendent les républicains de la teinte grecque et romaine, le droit de suffrage nous était échu avec la vie, il serait inique aux adultes d'empêcher les femmes et les enfants de voter. Pourquoi les empêche-t-on? Parce qu'on les présume incapables. Et pourquoi l'Incapacité est-elle un motif d'exclusion? Parce que l'électeur ne recueille pas seul la responsabilité de son vote; parce que chaque vote engage et affecte la communauté tout entière; parce que la communauté a bien le droit d'exiger quelques garanties, quant aux actes d'où dépendent son bien-être et son existence.</font>
 
Se, como pretendem os republicanos do tipo grego e romano, o direito de sufrágio nos fosse conferido juntamente com a vida, seria iníquo que os adultos impedissem as mulheres e crianças de votar. Porque são impedidos? Porque se presumem incapazes. E porque é a Incapacidade um motivo de exclusão? Porque o eleitor não colhe sozinho a responsabilidade do seu voto; porque cada voto compromete e afecta a comunidade inteira; porque a comunidade bem tem o direito de exigir algumas garantias quanto aos actos dos quais dependem o seu bem-estar e a sua existência.
 
 
 
<font color=red>Je sais ce qu'on peut répondre. Je sais aussi ce qu'on pourrait répliquer. Ce n'est pas ici le lieu d'épuiser une telle controverse. Ce que je veux faire observer, c'est que cette controverse même (aussi bien que la plupart des questions politiques) qui agite, passionne et bouleverse les peuples, perdrait presque toute son importance, si la Loi avait toujours été ce qu'elle devrait être.</font>
 
Sei o que se pode contestar. Também sei o que se poderia replicar. Não é este o lugar de esgotar tal controvérsia. O que quero fazer observar é que essa mesma controvérsia (assim como a maior parte das questões políticas) que agita, apaixona, e perturba os povos, perderia quase toda a sua importância se a Lei sempre tivesse sido o que deveria ser.
 
 
 
<font color=red></font>