O Macaco Cientista: diferenças entre revisões

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Autor: Robert Louis Stevenson (1850-1894)
Este conto, junto com o conto [[O Relojoeiro]] foram encontrados recentemente no espólio do autor, tendo sido publicados em '''English Literature in Transition 1880-1920 (Magazine/Journal); September 22, 2005'''<br>
 
'''O Macaco Cientista'''<br>
 
 
Em uma certa ilha das Indias Ocidentais havia uma casa e próximo a ela um bosque. Na casa morava um vivisseccionista e nas árvores do bosque um bando de macacos antropoides. Em um certo dia um dos macacos foi capturado pelo vivisseccionista e colocado numa gaiola do laboratório. Ali ele ficou aterrorizado e profundamente interessado em tudo o que ouvia, conseguindo, depois de pouco tempo de cativeiro, fugir de sua sua cela (que tinha o número 701), retornando à sua família somente com uma pequena ferida em uns dos pés e considerando assim que havia saido ganhando com a experiência.<br>
Assim que voltou ele se autointitulou de doutor e começou a pertubar seus vizinhos com a pergunta: Porque os macacos não são progressistas?<br>
-”Eu não sei o que significa progressista” alguém lhe disse, atirando um coco em sua avó.<br>
-”Eu nem me importo” disse outro, balançando-se para uma ávore vizinha.<br>
-”Oh! Para com isto” gritou um terceiro.<br>
-”Dane-se o progresso” disse o chefe, que era um antigo partidário da força bruta. “Tente se comportar da melhor forma que puder”.<br>
Mas quando o macaco cientista se encontrou a sós com os macacos mais novos, ele foi ouvido com mais atenção.<br>
-”Homem é somente um macaco evoluído” disse ele, pendurando-se em um galho mais alto com sua cauda. “Como os registros geológicos são incompletos, é impossível dizer quanto tempo ele levou para evoluir, e quanto tempo que nos custará seguir seus passos. No entanto, se nos lançarmos vigorosamente "in media res" num sistema que inventei, eu penso que poderemos deixar todo mundo atônito. O homem perdeu séculos com religião, moral, poesia e outros desvios; passaram-se séculos antes que se dedicasse efetivamente à ciência, e foi apenas há pouco tempo que ele começou a fazer vivissecção. Nós temos que percorrer outro caminho e começar pela vivissecção.”<br>
-”Em nome dos cocos, o que é vivissecção?” perguntou um macaco.<br>
O doutor explicou detalhadamente o que ele havia visto no laboratório; e alguns de seus ouvintes ficaram extasiados, mas não todos.<br>
-”Eu nunca ouvi uma coisa tão bestial!” gritou um macaco que havia perdido uma orelha numa briga com sua tia.<br>
-”E para que nos serviria?” perguntou outro.<br>
-”Você não percebe? Disse o doutor. “Vivisseccionando homens nós encontraremos como os macacos são feitos e desta forma evoluiremos.”<br>
-”Mas porque não vivisseccionar outro macaco?” perguntou um de seus discípulos, que era um polêmico.<br>
-”Que vergonha!” disse o doutor. “Eu não ficarei sentado ouvindo tais bobagens,pelo menos não em público.”
-”Mas porque não com criminosos?” perguntou o polemista.<br>
-” É muito duvidoso que exista algo como o bem e o mal: então, onde estaria seu criminoso?” replicou o doutor. “e além do mais o público não toleraria isto e os homens são ótimos para este fim; eles são do mesmo gênero”<br>
-”Parece uma maldade com os homens”, disse o macaco de uma só orelha.<br>
-”Bem, para começar” disse o doutor, “eles dizem que nós não sofremos e somos o que eles chamam de robôs; então nós temos o pleno direito de dizer o mesmo deles”.<br>
-"Isto não tem sentido",disse o polemista; "além do mais é auto destrutivo. Se eles são somente autômatas, eles não podem ensinar nada sobre nós mesmos; e se eles podem nos ensinar alguma sobre nós mesmos, pelos cocos! eles devem sofrer."<br>
-"Estou de acordo com sua maneira de pensar," disse o doutor, "contudo este argumento só é adequado para folhetins mensais. Está certo que eles sofrem. Bem..., eles sofrem no interesse de uma raça inferior que necessita ajuda: não pode haver nada mais justo, e além disto, nós deveremos fazer descobertas que serão úteis a eles mesmos." <br>
-"Mas como faremos descobertas," perguntou o polemista, "se não sabemos o que procurar?"<br>
-"Deus salve meu rabo!" gritou o Doutor, perdendo sua compostura, "Penso que tens a mente menos científica de todos os macacos das Ilhas Windward! Como saber o que procurar! A ciência verdadeira não tem nada a ver com isto. Você simplesmente se faz uma vivissecção, confiando na sorte; e se alguma coisa é descoberta, quem ficaria mais surpreso do que você mesmo?"
-"Tenho mais uma objecção", disse o contendor, "apesar de que, repara, não nego que seria sumamente divertido. Mas os homens são tão fortes... E, além disso, têm armas".<br>
-"Então traremos bebés", concluiu o doutor.<br>
Nessa mesma tarde, o doutor regressou ao jardim do vivissectionista, surripiou uma das suas lâminas através da janela do quarto de vestir e, numa segunda viagem, trouxe um bebé do berçário.<br>
Houve um grande sururu no cimo das árvores. O macaco com uma orelha, que era um tipo com boa índole, aconchegou o bebé nos seus braços; outro pôs-lhe nozes na boca, mas ficou zangado por ele não as comer.<br>
-"Não tem sentido," disse ele.<br>
-Mas eu gostaria que ele não chorasse," disse o macaco de uma orelha, "ele parece tão horrivelmente com um macaco!" Isto é uma criancice," disse o doutor. "Dê-me o bisturi." <br>
Mas ao ouvir isto o macaco de uma só orelha perdeu a cabeça, cuspiu no doutor, e fugiu com o bebe para a copa da árvore mais próxima.<br>
-"Hei!", gritou o macaco de uma só orelha, "faça a vivisecção em você mesmo!" <br>
Neste momento todo o bando começou a persegui-lo gritando; e o ruido chamou a atenção do chefe que estava nas redondezas matando piolhos.<br>
"Que confusão é esta?" gritou o chefe e quando lhe contaram o que ocorria, ele limpou sua testa. "Pelos grandes cocos!" gritou, "isto é um pesadelo? Podem os macacos cair em tal barbaridade? Leve este bebe de volta para o lugar de onde ele veio."<br>
-"Você não tem uma mente científica," disse o doutor.<br>
-"Eu não sei se tenho ou não uma mente científica", respondeu o chefe; "mas eu tenho um porrete bem grande, e se você colocar a mão neste bebe, vou lhe quebrar a cabeça."<br>
Então eles levaram o bebe de volta ao jardim fronteriço. O vivisseccionista (que era um bom homem de família) ficou feliz e sentindo o coração aliviado, começou mais três experiências em seu laboratório antes que o dia terminasse.<br>