Nicolas Barré: diferenças entre revisões

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Linha 21:
''É dispensável relatar a alegria que tomou conta de todos e como cada um rendeu graças ao Senhor por termos sobrevivido à miséria em que nos encontrávamos e ao tempo que permanecemos no mar. O lugar onde chegamos, situado a 20º da linha, é chamado pelos selvagens de Pararbe e é habitado por portugueses e por uma nação que vive em constante estado de guerra com aquela com a qual temos aliança. Deste lugar, navegamos mais 3 graus, o equivalente a 80 léguas, até o Trópico de Capricórnio. No dia 10 de Novembro, chegamos ao rio Guanabara, rio que mais parece um lago. O local encontra-se exactamente sob o Trópico de Capricórnio. Pusemos o pé em terra cantando louvores e acções de graças ao Senhor. No lugar, encontramos de 500 a 600 selvagens, todos nus e armados de arcos e flechas. Esses nativos disseram-nos, na sua língua, que éramos bem vindos, ofereceram-nos alguns presentes e aclamaram-nos como aqueles que iriam defendê-los dos portugueses e de outros dos seus inimigos capitais.''
 
''A baía é bela e fácil de fixar na memória, pois sua entrada é estreita e fechada de ambos os lados por duas altas montanhas. No meio da dita entrada (que tem cerca de meia légua), há uma rocha, com mais ou menos 100 pés de comprimento e 60 de largura, sobre a qual o senhor Villegagnon, prevenindo-se contra os inimigos, construiu um forte de madeira e instalou a sua artilharia. O rio referido é tão espaçoso que todos os navios do mundo poderiam aí ancorar com segurança; sua superfície é cheia de belas ilhas, todas cobertas de verdes bosques. Em uma dessas ilhas, situada em frente ao forte, foi colocado o restante dos homens e da artilharia. Optou-se por instalá-los nesse espaço, porque temia-se que, caso fossem transferidos para a terra, os selvagens empreendessem um ataque contra os homens e roubassem as mercadorias.''"
 
''O solo local produz somente milho-miúdo, que em nosso país é conhecido pelo nome de trigo-sarraceno. Desse cereal e de uma raiz chamada maniel, cuja folha em muito se assemelha à da Paeonia, os nativos extraem uma espécie de vinho. Essa raiz, que serve ainda para a produção de uma farinha mole tão boa quanto o trigo, dá origem a uma árvore da altura do sabugueiro. Cheguei a ver também uma erva, chamada petume, que os nativos, após limpá-la e extrair-lhe o suco, transformam num alimento capaz de sustentar um homem por oito ou nove dias. Duas espécies de frutas, que experimentei, eram maravilhosamente boas: uma, denominada nanás, vem de uma planta semelhante ao aloés; trata-se de uma fruta espumosa, muito doce, mas de difícil digestão. A outra, de nome pacoma, é uma espécie de figo, muito leve e agradável, cuja planta é dotada de umas folhas semelhantes àquelas da Lapathum aquaticum. A terra produz, ainda, favas grandes e pequenas, ambas muito boas para comer, e uma quantidade pouco significativa de cana-de-açúcar. Também em pequena quantidade são os limões e laranjas aqui encontrados, pois os habitantes locais são extremamente negligentes no seu cultivo. Quanto às plantas medicinais, eu encontrei somente a beldroega, o mirto e o manjerico. Todo o resto é tão selvagem e grande que, se mestre Jean, o herbanário, aqui estivesse, ficaria, sem dúvida, bem embaraçado.''"