Como os embriagados de kava da Polinésia vou tartamudeando e soluçando sob as paixões, ó águia, Águia Germânica, imperiosa e doirada!

Uma estranha harmonia de "Dança macabra" de Saint-Saens me entorpece e invade em lágrimas negras de notas.

Todo o meu pensar e sentir estacou de súbito agora, como um nervoso cavalo da Arábia a que se refreia o bridão, diante da tua plumagem d’oiro da tua envergadura d’asa valente, - ó águia! doirada Águia humana e Germânica, que tudo de mim para sempre levas, Esperanças e Sonhos, impetuosamente arrebatado no alto, ao impulso fremente das tuas garras alpinas.

E eu fico em ânsias no vácuo, num vago anelar indefinido, como as aspirações do perfume que quer ser luz...

Mas um pedaço de horizonte ao longe marcando as infinitas distâncias e uma língua de terra aprumada em monte, tornam-me tangível o sentimento da realidade; e, então, claramente vejo e sinto, desiludido das Coisas, dos Homens e do Mundo, que o que eu supunha embriagamento, arrebatamento de amor nas tuas asas, ó loira Águia Germânica! - nada mais foi que o sonambulismo dum sonho à beira de rios marginados de resinoso aloendros em flor, na dolência da Lua nebulosa e fria, à alta paz do Azul, sob as pestanejantes estrelas rutilamente acesas...