Querendo hum Ladrão entrar em huma casa de noite, para a roubar, achou á porta hum cão que com ladridos o impedia. O cauteloso Ladrão, para o apaziguar, lhe lançou hum pedaço de pão. Mas o cão disse: Bem entendo que me dás este pão porque me calle, e te deixe roubar a casa, e não por amor que me tenhas: porém já que o dono da casa me sustenta toda a vida não deixarei de ladrar, se não te fores, até que elle acorde, e te venha estorvar. Não quero que este bocado me custe morrer de fome toda a minha vida.
MORALIDADE.
Quem se fia em palavras lisongeiras, ou em dadivas falsas, acha-se no fim enganado. Mas quem tem por suspeitosas as mercês e palavras do lisongeiro cobiçoso, (como este cão teve as do ladrão) não se deixa enganar, e he leal ao senhor de quem recebe mercês, como elle foi sempre a seu amo.