FABVULA XXV.

O Lobo e o Cão.


Encontrando-se hum Lobo e hum Cão em hum caminho, disse o Lobo: Inveja tenho, companheiro, de te vêr tão gordo, com o pescoço grosso, e cabello luzido: eu sempre ando magro e arripiado. Respondeo o Cão: Se tu fizeres o que eu faço, tambem engordarás. Estou em huma casa, onde me querem muito, dão-me de comer, tratão-me bem; e eu tenho cuidado só de ladrar quando sinto ladrões de noite. Por isso, se queres, vem commigo, terás outro tanto. Acceitou o Lobo, e começárão a ir. Mas no caminho disse o Lobo: De que he isso, companheiro, que te vejo o pescoço esfolado? Respondeo o Cão: Porque não morda de dia aos que entrão em casa, estou preso com huma cadea, e de noite me soltão até pela manhã, que tornão a prender-me. Não quero tua fartura, respondeo o Lobo: A troco de não ser cativo, antes quero trabalhar, e jejuar livre. E dizendo isto se foi.


MORALIDADE


Não ha prata, nem ouro, por que deva vender-se a liberdade, e quem a estima no que ella merece, faz o que fez este Lobo, que escolhe antes trabalhos e fome que perdela: mas comedores negligentes e apoucados não estimão ser livres, com tanto que comão o pão ociosos, e os taes são significados nesta Fabula pelo Cão.





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