Huma tropa de Pastores

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Huma tropa de Pastores,
vaõ esta noite a Belem,
no cantar muy para ouvir,
no bailar muy para ver.
Levados de hum Paraninfo.
porque lhe ouviraõ dizer,
que estava a Gloria na terra,
& a terra em Gloria tambem.
Vão cantando, & vão bailando
dous, a dous, & tres, a tres,
com estrondo sonoroso,
com armonico tropel.
Tanto que no Portal entrão,
que o Ceo tinha por docel,
vendo o Sol estar à chuva,
que elle com seus olhos fez.
E vendo a Deos humanado,
que he Menino, Homem, & Rey,
os juizos suspendendo,
seu baile fez suspender.

Estribilho.

Oylè, Oylè,
que o Infante que nace Minino,
muy Homem he;

Coplas.

Despois que todos bailàraõ
logo silencio se fez,
porque chorava o Minino,
tão terno,
que as pedras pòde mover.
Chorava o Minino belo,
& eraõ muito para ver,
nas lagrimas que vertia,
taõ doces,
os sinaes de quem quer bem.
Chorava o belo Minino,
não as mudanças dos pès,
mas as mudanças que os homens
tyranos,
fizeraõ da sua ley.
Chorava o Sol soberano,
& era magoa, & pena a fè,
ver que o Sol se derretia
de amores,
que os bronzes fez derreter.
Vendo os Pastores seu pranto,
qual Amante, & qual Cortez,
advertilo começão
alegres,
no seu cantar, & tanger.

Estribillo.

Pelas Estrellas do Ceo,
ay, ora ay,
que não se pòde sofrer,
ver chorar o Sol nacido,
ay, ora ay,
ver a fria Neve arder.

II. Coplas.

A armonia dos Pastores,
fez ao Infante adormecer,
que quem o fez desvelar,
tambem descançar o fez.
Dorme o Infante soberano,
porèm como Amores tem,
parece que nelle he sono,
o que sò desvelo he.
Vendo os Pastores que dorme
cada qual busca cortez,
de Neve a mão, para os olhos,
a boca de prata o pè.
E jà do Portal remotos,
nas lembranças do seu bem,
amorosos, quanto alegres,
vão repetindo outra vez.

Estribilho.

Oylè, Oylè,
que o Infante Minino que nace,
muy homem he.