À ELISA.



Ella foi-se, e com ella foi minh’alma!

* * *

Não roce os labios meus nem mais um riso
Meu terno coração ralai, saudades!

                  Bocage


Já realisados, Elisa,
Vejo os temores qu’eu tinha:
Tu partiste, me deixaste...
E como te foste azinha !
Sem te ver, anjo querido,
Quanto é triste a vida minha!

Essa casa tão alegre,
Quando por ti habitada,
Essa da santa virtude
Encantadora morada,
Hoje é triste como a lousa
No cemiterio isolada!

O silencio, que a rodeia,
Eu quebro, quando te chamo,
Quando invóco o dôce nome
D’aquella, que tanto amo;
Mas só os echos respondem
Ao meu saudoso reclamo!

Contemplando essas paredes
Inanimadas e frias,
Que a cada instante me lembram
As passadas alegrias
D’esses — que juntas gozámos —
Risonhos, ditosos dias,

Minha profunda saudade
Inda mais sinto augmentar:

Meu coração opprimido
De dôr parece estalar,
Presentindo que o passado
Não se possa renovar.

Esse cruel fado imigo,
Que de mim te separou,
Porque deixou-me uma vida,
Que tão infeliz tornou?
Oh! maldito seja elle,
Que a viver me condemnou!

Oh! maldito seja elle,
Que tanto me faz soffrer:
Que mudou minha ventura
’N um continuo padecer;
Que te arrancou de meus braços,
E me deixa inda viver!

De que me serve esta vida,
Que levo tão torturada?
Como hei de agora soffrel-a
De angustias tão repassada?

Ai de mim! como arrastal-a
Si me ficou tão pesada!

Si eu possuira a certeza
De que vivias feliz,
Mais resignada acceitára
Lei, que o fado impôr-me quiz
Mas tu soffres quanto eu soffro
O meu coração m’o diz.

Tu semelhas, minha Elisa,
Da rosa o pobre botão,
Cujo ramo foi lascado
Por furioso tufão,
E vai triste emmurchecendo
Debruçado para o chão.

E eu o que sou, meu anjo,
Senão botão desgraçado,
Que pende triste, sem viço,
Do pobre ramo lascado?
Bem irmãs somos nas dôres;
E bem irmão nosso fado.

Eu passo a vida sozinha,
Tua ausência a lamentar;
A pedir a Deus um dia,
Em que te possa abraçar;
A curtir uma saudade,
Que me não póde matar!


7 de Abril de 1852.