Marmores (1895)/Ballada/As duas irmãs

XII
As duas irmãs

Vem a primeira e falla-lhe em segredo:
„Amiga, vê, (nem sei como isto conte!)
Como correm as aguas desta fonte:
Tal corre a vida, e acaba-se tão cedo!

Ama, pois!” A segunda, em cuja fronte
Brilha um raio de luz, murmura, a medo,
Apontando-lhe o chão: „Este é o degredo
Perpetuo e atroz do teu amor insonte.


Comtudo, espera.” E somem-se a Esperança
E a Saudade. E ella fica, como douda,
A olhar o rastro dessas deusas bellas...

E ella fica esperando-as... Cansa, cansa
De esperal-as assim, a vida toda,
Sem jamais receber noticias dellas!...