Aves

1.ª ordem —Rapaces ou de rapina

1. Buteo vulgaris Bonap.1 — Degl.2; Drouet. Vulgarmente «milhafre». Esta ave não só habita a ilha Terceira, como também as demais ilhas dos Açores. Conquanto ainda seja muito frequente, parece contudo que ao tempo da descoberta das ilhas, os milhafres deveriam ser mais abundantes, porque foi a sua grande quantidade, e por serem considerados erradamente como açores, que os primeiros navegantes deram este nome às ilhas deste arquipélago. 2. Strix otus Linn. — Vulgarmente «mocho». Encontra-se no interior da ilha e é raro. Drouet menciona também Strix flammea («coruja») como existente nos Açores, mas na Terceira é desconhecida. 2.ª ordem — Pássaros 3. Fringilla serinus Linn.3 — Degl. Vulgarmente «canário-da-terra» ou simplesmente «canários». É, sem dúvida alguma, a ave mais abundante na ilha, e excessivamente daninha e prejudicial à agricultura, porque sendo essencialmente granívora, causa a perda de muitas sementes. 4. Fringilla canaria Linn.4 — Moq.5 Vulgarmente «canário-amarelo». Só vive no estado de cativeiro, umas vezes apresentando os caracteres da raça pura, outras, os do cruzamento, ou com o canário ordinário ou com o canário belga, e alguns amadores têm obtido o cruzamento com o pintassilgo. 5. Fringilla carduelis Linn.6 — Vulgarmente «pintassilgo». Há apenas alguns anos que esta espécie existe no estado de liberdade, vivendo até então em cativeiro, e era oriunda de Portugal. É especialmente próximo da cidade que se vê mais frequentemente. 6. Fringilla canariensis Vieill.7 — Vulgarmente «tentilhão». Posto que não seja tão abundante como o canário, é também uma ave daninha e prejudicial à agricultura. Jacques Pucheran8 considerou o tentilhão dos Açores como constituindo uma espécie nova, à qual deu o nome de Fringilla moreletti,9 em honra de Arthur Morelet, o naturalista que percorreu os Açores.


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7. Regulus cristatus Briss.10 — Degl. Vulgarmente «pisco» ou «ferfolha». É a mais pequena das aves da Terceira. Encontra-se nas quintas onde faz o ninho nos buracos das paredes.11 Não é muito frequente. 8. Sturnus vulgaris Linn.12 — Degl. Vulgarmente «estorninho». Habita permanentemente a Terceira. Parece haver duas variedades: uma de plumagem de um preto luzidio, e outra com penas brancas e pretas. 9. Turdus merula Linn.13 — Degl. Vulgarmente «melro-preto». É muito abundante e encontra-se em todas as localidades da ilha. É assaz daninho, não poupando os frutos das árvores que estraga extraordinariamente. Apresenta frequentes vezes o albinismo. 10. Sylvia atricapilla Linn.14 — Degl. Vulgarmente «toutinegro». É muito abundante, e o seu canto é muito agradável, por isso é considerado como o rouxinol dos Açores. 11. Erithacus rubecula Linn. — Degl. Vulgarmente «vinagreira». É bastante frequente nas quintas e pomares. Não se deve confundir a palavra «vinagreira» com «vinagreiro». A primeira representa a espécie acima mencionada, também conhecida pelo nome de «papalvo»; a segunda, um descendente do «toutinegro» que não podemos deixar do considerar como um híbrido, resultante do cruzamento da «toutinegra» com outra espécie qualquer. O povo admite que, sendo a postura da «toutinegra» de cinco ovos, quando é geralmente de quatro, o quinto ovo produz o «vinagreiro», muito semelhante ao «toutinegro», e tendo como distintivo a cor bem preta em toda a cabeça, pescoço e parte do peito, e o resto do cor, de um cinzento muito escuro. Esta ave é raríssima, de pouca duração, e nunca se obteve com ela criação alguma, pelo que a consideramos como um híbrido. 12. Motacilla boarula Gmel.15 — Vulgarmente «lavandeira» ou «alvéola». É muito abundante, preferindo a cidade e os lugares habitados. 3.ª ordem — Columbídeos 13. Columba turricola C. Bonap.16 — Vulgarmente «pombo-bravo» ou «pombo-da-rocha». Encontra-se em numerosos bandos nos rochedos do mar, onde faz o ninho, e só vem para o interior da ilha procurar o alimento e água. É muito procurado pelos caçadores.


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14. Columba trocaz Hein.17 — Vulgarmente «pombo-trocaz». Esta espécie é pouco numerosa na Terceira e apenas se encontra nas matas onde vegeta o loureiro de cujas sementes se nutre especialmente. É uma caça muito estimada. Charles Bonaparte18 considera o macho desta espécie como uma espécie distinta, a que deu o nome de Trocaza bouvryi, e à fêmea o de Trocaza laurivora. Na primeira, a faixa branca da cauda está a meio, e na segunda fica na extremidade.19 15. Columba domestica Lath.20 — Vulgarmente «pombo-doméstico». É abundante nos poucos pombais que se encontram ainda nalgumas casas particulares, sem que haja escolha de raças. 16. Columba turtur Linn.21 — Vulgarmente «rola». Encontra-se, não com muita frequência, e no estado de cativeiro. 4.ª ordem — Galináceos 17. Perdix rubra22 Briss. — Vulgarmente «perdiz». Tem-se diligenciado propagar esta espécie na ilha Terceira, mandando vir alguns casais da ilha de Santa Maria, que chegaram a procriar, principalmente no Monte Brasil. Mas a ambição da caça e ao mesmo tempo o milhafre, têm-as destruído, tornando-se hoje muito rara. 18. Perdix coturnix Linn.23 — Degl. Vulgarmente «codorniz». É muito abundante e de excessiva propagação. Constitui hoje uma das caças mais abundantes. 19. Meleagris gallopavo Linn. — Cuvier Vulgarmente «peru». Criado em abundância em toda a ilha, é uma ave doméstica muito apreciada, havendo variedades no colorido das penas, desde o preto carregado até ao branco. 20. Numida meleagris Linn. — Cuvier Vulgarmente «galinha-de-angola», «pintada» ou «galinha-da-guiné». Esta espécie vive no estado doméstico, associada à galinha ordinária. Parece que em tempo viveu no estado de liberdade, e que a apanhavam a tiro.


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21. Pavo cristatus Linn. — Vulgarmente «pavão». Alguns casais existem como objeto de ornamentação nas quintas. 22. Gallus domesticus Briss.24 — Vulgarmente «galo». Encontra-se grande abundância de galinhas em toda a ilha. Alguns amadores têm conseguido conservar algumas raças, tais como a «cochinchina-amarela-e-branca», «paduana»25, «crèvecœur» e «Rio da Prata», mas pela tendência que os habitantes da ilha têm de procurar o cruzamento de raças em todas as espécies de animais, as variedades ou raças tendem a desaparecer, dando origem a variedades mal definidas. 5.ª ordem — Pernaltas ou Ribeirinhas 23. Ardea cinerea Linn. — Vulgarmente «garça-real». Este pernalta não habita permanentemente a Terceira, mas aparece frequentes vezes de passagem. Quando se demora vive nas proximidades das lagoas e dos tanques, onde dá caça aos peixes e rãs. O povo do campo conhece-o pelo nome de «joão-cardoso». 24. Scolopax rusticola Linn. — Vulgarmente «galinhola». Vive permanentemente na ilha, e encontra-se especialmente nos matos, constituindo uma caça muito apreciada e que poucas vezes aparece. 25. Scolopax gallinago26 Linn. — Vulgarmente «narceja». Como a precedente, encontra-se nas mesmas condições e é hoje muito rara. 26. Gallinula chloropus Lath. (ou Fulica chloropus Linn.)27 — Vulgarmente «galinha-de-água». Outrora ave de arribação, vive hoje na ilha Terceira, ainda que não em muita abundância, no Paul da Vila da Praia da Vitória. 27. Totanus fuscus Mey & Wolf.28 — Vulgarmente «maçarico-real». Esta ave encontra-se nas proximidades das lagoas e da beira-mar. Não é muito frequente. 28. Fulica atra Linn. — Vulgarmente «galinhoto». Somente se observa de passagem, especialmente no inverno.


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29. Tringa vanellus Cuvier — Vulgarmente «abibe». Aparece, por vezes, em bandos, mas unicamente de passagem. 6.ª ordem — Palmípedes 30. Sterna hirundo Linn. — Degl. Vulgarmente «garajau». Vive nos Açores e procura os buracos das rochas marítimas para ali fazer os seus ninhos. É especialmente no fim do verão e no outono que se vê em maior abundância. 31. Larus argentatus29 Brunn. — Vulgarmente «garça-brava» ou «gaivota». Este palmípede é muito abundante e procria nas costas da ilha, fazendo ninho ao ar livre. É a ave marítima que mais se afasta das costas, acompanhando às vezes as embarcações que desta ilha vão até Lisboa. Conservam-se no mar enquanto o tempo é bom, voando muito baixo, mas na aproximação das tempestades, eleva-se na atmosfera e por muitas vezes procura o interior da ilha, vivendo então de larvas e dos pequenos peixes de água doce que encontra nas lagoas. 32. Larus tridactyla Linn.30 — Vulgarmente «garça-cinzenta». Como a precedente, vive na ilha e tem os mesmos hábitos e costumes. 33. Procellaria puffinus Temm. (ou Puffinus cinereus Ch. Bonap.)31 — Vulgarmente «cagarro». Vive nas rochas do mar e só de noite vem para terra à procura de alimentação que consiste em pequenos pássaros ou ratos. 34. Podiceps auritus Degl. — Vulgarmente «mergulhão». Aparecem alguns exemplares, mas de passagem. 35. Colymbus glacialis Linn. 32— Vulgarmente «galeirão». Raras vezes se observa, porque é uma ave de arribação. 36. Thalassidroma bulweri Ch. Bonap.33 — Vulgarmente «alma-de-mestre». Mais raro que a espécie antecedente.


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37. Anas boschas Linn.34 — Vulgarmente «pato-bravo». Aparece de passagem, no mar ou nos charcos do interior da ilha. 38. Anas crecca Linn. — Vulgarmente «marreca- brava». É igualmente de passagem que se encontra este palmípede no estado bravo. No estado doméstico é frequente e de muita fecundidade. 39. Anas nigra Linn.35 — Vulgarmente «pato-preto». É outra variedade de pato bravo que aparece nas mesmas condições e épocas da anterior. 40. Anser ferus Temm.36 — Vulgarmente «ganso». É criado como ave doméstica, muitas vezes útil como vigia. 41. Anser… — Vulgarmente «ganso» ou «pato-real». Vive nas mesmas condições do precedente. Constitui uma variedade, chamada «frouxeleira», que apresenta nas asas umas penas soltas e encrespadas.