Nasceu, nasceu, pastores,
Jesus, o suspirado!
Com passo apressurado
Corramos a Belem!
Voemos á lapinha,
A ver o Rei divino,
Que um Deus, o Deus Menino,
Do ceu salvar-nos vem!
Olhae-lhe os lindos olhos,
Estrellas rutilantes.
Mais claros que diamantes,
Mais vivos que os rubins!
Mirae-lhe o lindo rosto,
Que excede na candura
Dos jaspes a brancura,
A neve dos jasmins!
Fitae d'aquellas faces
As flores tam mimosas,
Mais lindas do que as rosas,
Os cravos, o arrebol!
Fitae-lhe o seu cabello,
Mais loiro, mais doirado,
Do que oiro acrysolado,
Mais loiro do que o sol!
Mirae-lhe o terso collo,
Aquelles seus bracinhos,
Mais brancos que de arminhos
A nivea branquidão!
Que dita, se nos soffre
Alli, nos pobres paços,
A dar-lhe mil abraços,
Beijando aquella mão!
Que dita, pastorinhos!
Que extremos de ventura,
Chorarmos com ternura
Ao ver nascido a Deus!
Ao ve-lo na lapinha,
Ao vel-o tamanino,
Ao ver um Deus Menino
Descido lá dos ceus!
José, seu pae, ao ve-lo
Dos anjos cortejado,
Parece arrebatado
Em extasis de amor!
Da Virgem-Mãe nos braços,
Parece que assemelha
A mais doirada abelha
No calix de uma flor.
Que gôso, se aos pastores
Nos dér um só sorriso!
Será o Paraiso,
Será morrer de amor!
Mas, se Elle acaso chora
Em noite tam nevada,
A dôr será dobrada:
Será morrer de dôr!
Senhor: se fossem ricos
Os pobres dos pastores,
Nem tu soffreras dores,
Nem pena, ao ver-Te, nós.
Tam pobres, só podemos
Prendar-te co'a pobreza,
Co'a rústica lhaneza
Do amor dos nossos dós.