Suspiros poéticos e saudades (1865)/As Saudades/No Album de um Joven Amigo

Amigo, eu parto, e deixo-te saudoso.
Pois que sempre tua alma bem formada
Minhas vozes ouviu, vozes sinceras;
Pois que sempre os conselhos da experiência
Com prazer escutaste,
Inda que às vezes duros;
No momento do adeus recebe, atende
Esta, de amor, não lisonjeira prova.

É qual sereno rio a mocidade,
Que as imagens retrata, e não conhece

O bem, e o mal, e as ilusões do mundo:
É como verde, flácida vergôntea,
Que a forma toma que o cultor lhe imprime,
E boa, ou má, não mais depois se muda.

Quem, como tu, da Pátria longe vive,
Longe dos paternais, úteis ditames,
Assaz tem que lutar, se à glória aspira.
Filósofos não faltam que te instruam;
Mas da vida, nas páginas de um livro,
Não se aprende a ciência.

Estuda, sim estuda, mas pratica
Dignas ações de ti; e eu te asseguro,
Pois que a Natura te protege, e inspira,
Qu'inda um dia serás brilhante estrela
Entre os astros que a Pátria nossa adornam.
A Deus praza que a Pátria não iludas,
E os votos de teus pais, e dos amigos.

A todo o instante que este livro abrires,
Lendo estes versos, dize: hei um amigo.