Sonetos (Antero de Quental, 1880)/No turbilhão

NO TURBILHÃO

No meu sonho desfilam as visões,
Espectros dos meus proprios pensamentos,
Como um bando levado pelos ventos,
Arrebatado em vastos turbilhões...

Numa espiral, de estranhas contorsões,
E donde sáem gritos e lamentos,
Vejo-os passar, em grupos nevoentos,
Distingo-lhes, a espaços, as feições...

— Fantasmas de mim mesmo e da minha alma,
Que me fitaes com formidavel calma,
Levados na onda turva do escarceo,

Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes?
Quem sois, visões miserrimas e atrozes?
Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!...