XVIII.

Quando eu acabava de proferir estas palavras em louvor e honra de meu amigo Dionysio, de súbito e inesperadamente, escuto uma voz murmurar :

— Quem falla ahi em amor ?...

Dei um salto : era uma voz humana, o mais apreciavel dos thesouros para mim ; e mais ainda, era uma voz feminina, era a Eva que eu, pobre Adão, ardentemente desejava para bem da humanidade, que não se devia extinguir.

Oh ! não se pôde fazer idéa da minha sorpresa, da minha alegria, do meu arrebatamento !

Procurei a bocca por onde havia passado aquella voz, e vi inclinada sobre uma cadeira em um canto do salão, mas quasi moribunda, uma joven corista, e que corista !... a senhora X. P. T. O., um demoninho tentador que se apaixonára por mim em 1846 em certa noite em que me ouviu canfar a aria do boleeiro. Corri a ella, abracei-a, suspirei, chorei, e até cantei-lhe um pedaço da aria predilecta.

— Ainda vive alguém?... perguntou-me com voz sumida a divindade.

— Eu só, eu só ; respondi-lhe ancioso: eu só, que serei o teu Adão, porque tu vas ser a minha Eva.

A corista deu um muxôxo, fez um momo, e fechou os olhos.

— Vive ! vive!... é necessário qui vivas!...

— Para que?... tornou-me ella.

— Para não se acabar o mundo, minha filha ; para arranjarmos um artigo additivo á humanidade, que está em risco de se extinguir de todo. Olha, minha corista, o destino do globo terraqueo está nas nossas mãos.

— Oral... nem ao menos eu acharia com quem cantar um côro...

— Cantaremos um duetto, menina !

— Não... não... de que me serviria viver ?... que poderia eu ser ainda ?...

— Minha mulher, pequena !

— Tua mulher ?... ora essa!... se eu fosse agora tua mulher... como tu és o único homem no mundo, nem ao menos eu poderia pregar-te um mono !

E inclinando a cabeça... exhalou um suspiro, que me pareceu o ultimo.