O Livro de Esopo/As lebres e as rãs

LVII. [As lebres e as rãs]

[P]om emxemplo este poeta e diz que em hũa mata jaziam muytas lebres; e hũu gram vemto daua pellas aruores, e faziam[1] gramde arroyd[o][2]. /[Fl. 40B-v.] As lebres ouuerom gramde temor, e compeçarom de fugir. E fogimdo chegarom a hũu lago d’augua omde estauam muytas rrãas; e ssemtindo as rrãas que as lebres fugiam, ouueram gram temor e começarom todas de fugir e deytarom sse na augua.

Hũa d’estas lebres, veendo fugir as rrãas ssem porquê, disse:

— Nós fugimos em vaão! ca tall he o nosso medo como[3] o medo d’estas rrãas que fogem por nada. Estemos quedas, e ajamos boa esperança[4] e vejamos que cousa nos fez fugir.

E assy estando, viram que fogiam ssem porquê.




Per este emxemplo este doutor nos amoestra que, por nhũa gram tribulaçom que o homem aja, nom deue perder a esperança, porque a esperança he aquella que mantem o homem que e[stá] em [tr]ibulaçom: e aquell que perde a esperança, ligeyramente sse despera. Ajmda diz que muytos homẽes forom no mundo em priguo de morte, e ouuerom esperança d’escapar, e escaparom.

Notas editar

  1. O sujeito grammatical é arvores.
  2. Tudo o que nesta fabula ponho entre colchetes falta no ms., por este estar roto.
  3. A photographia apresenta aqui um traço, que corresponde a uma dobra do ms., de modo que adeante de com só se vê parte da lettra seguinte, que creio ser o.
  4. No ms. espança, sem traço no p. Nos logares seguintes, ora com traço, ora por extenso.