[P]om emxemplo este poeta e diz que em hũa mata jaziam muytas lebres; e hũu gram vemto daua pellas aruores, e faziam[1] gramde arroyd[o][2]. /[Fl. 40B-v.] As lebres ouuerom gramde temor, e compeçarom de fugir. E fogimdo chegarom a hũu lago d’augua omde estauam muytas rrãas; e ssemtindo as rrãas que as lebres fugiam, ouueram gram temor e começarom todas de fugir e deytarom sse na augua.
Hũa d’estas lebres, veendo fugir as rrãas ssem porquê, disse:
— Nós fugimos em vaão! ca tall he o nosso medo como[3] o medo d’estas rrãas que fogem por nada. Estemos quedas, e ajamos boa esperança[4] e vejamos que cousa nos fez fugir.
E assy estando, viram que fogiam ssem porquê.
Per este emxemplo este doutor nos amoestra que, por nhũa gram tribulaçom que o homem aja, nom deue perder a esperança, porque a esperança he aquella que mantem o homem que e[stá] em [tr]ibulaçom: e aquell que perde a esperança, ligeyramente sse despera. Ajmda diz que muytos homẽes forom no mundo em priguo de morte, e ouuerom esperança d’escapar, e escaparom.
Notas
editar- ↑ O sujeito grammatical é arvores.
- ↑ Tudo o que nesta fabula ponho entre colchetes falta no ms., por este estar roto.
- ↑ A photographia apresenta aqui um traço, que corresponde a uma dobra do ms., de modo que adeante de com só se vê parte da lettra seguinte, que creio ser o.
- ↑ No ms. espança, sem traço no p. Nos logares seguintes, ora com traço, ora por extenso.