LII. [O ladrão e o cão]

[C]omta-sse que foy hũa vez hũu ladrom que queria de noute rroubar hũa casa, a quall guardaua hũu cam: e o ladrom chamaua o cam, [e][1] que[ri]a-lhe[2] dar do pam; e o cam disse:

— Tu me queres dar este pam por tall que nom ladre, e queres rroubar esta [casa][3], que bem ssey que este pam que me tu queres [d]ar[4] tem peçonha ascomdida. Eu nom fa[ço com]tigo[5] amizade, ca eu amo mays meu senhor que nom a ty; e sse tu nom te partes d’aquy eu b[raa]darey[6] alltas vozes.

E o ladrom quis[7] procu[rar][8] /[Fl. 38-v.] de filhar o que estaua em casa: e o cam começou fortemente de ladrar, e o ladrom fugio com temor.




Em esta estoria o doutor enssina os homẽes que deuem sseer ssabedores[9] quando filham algũs[10] emcarregos e[11] seruiços, e ssempre deuem d’esg[uardar os][12] que lhe dam estes doçes, ca muytos doçes sse dam pera emguanarem os ofiçiaaes: e ssemelhamtemente os homẽes, quando ofereçem e dam algũa cousa a algũas persoas[13], deuem esgu[a]rdar[14] a quem as dam. Ajmda nos este dout[or emsin]a[15] que nos deuemos guardar do [uici]o[16] de guargamtoiçe.

Notas editar

  1. Roto no ms. o que ponho entre colchetes.
  2. Roto no ms. o que ponho entre colchetes.
  3. roubar esta mal distincto; casa apagado.
  4. Apagado o que ponho entre colchetes; queres está em abreviatura.
  5. Apagado o que ponho entre colchetes; queres está em abreviatura.
  6. Roto o que ponho entre colchetes. Na fab. LI ha tambem braadar.
  7. O ms. está aqui um tanto apagado, mas, examinando-o com cuidado, vê-se que a respectiva palavra é realmente quis, e não mais, como tambem poderia parecer.
  8. O ms. está roto onde ponho colchetes.
  9. O ms. está um tanto apagado no logar d’estas duas palavras.
  10. Assim, e não algũus. A palavra é a ultima da linha.
  11. emcarregos e pouco distinctamente.
  12. Apagado o que ponho entre colchetes.
  13. Psoas com p cortado em baixo.
  14. Roto o que ponho entre colchetes.
  15. Roto o que ponho entre colchetes.
  16. Roto o que ponho entre colchetes.