Eu (Augusto dos Anjos, 1912)/O Mar, a Escada e o Homem
O Mar, a Escada e o Homem
«Olha agora, mammifero inferior,
«Á luz da epicurista ataraxia,
«O fracasso de tua geographia
«E do teu escaphandro esmiuçador!
«Ah! jamais saberás ser superior,
«Homem, a mim, comquanto ainda hoje em dia,
«Com a ampla hélice auxiliar com que outr’ora ia
«Voando ao vento o vastissimo vapor,
«Rasgue a agua hórrida a nau árdega e singre-me!»
E a verticalidade da Escada ingreme:
«Homem, já transpuzeste os meus degraus?!»
E Augusto, o Hercules, o Homem, aos soluços,
Ouvindo a Escada e o Mar, cahiu de bruços
No pandemonio aterrador do Cháos!