D'aquelle de quem falo, as socegadas lousas
Podiam-vos contar as violações brutaes!
A gula com que morde as mais sagradas cousas
D'horror faz recuar os trémulos chacaes.
Não descanta á viola, á noite, os seus enleios:
Elle vive na sombra e eu sei também que vós,
Gentis bellezas d'hoje, ó astros dos Passeios,
Lhe não lançaes, a furto, a escada de retroz.
Mas sede muito embora as virgens sem desejos,
As monjas virginaes, uns pudicos dragões;
Fechae o niveo collo aos vendavaes dos beijos,
E ás noites de luar os vossos corações;
Um dia hade chegar em que elle, informe, tosco,
Sem garbo, sem pudor, grotesco, infame, vil;
Nas grandes solidões irá dormir comvosco,
Mordendo em cada seio o lyrio mais gentil!
E o que elle adora muito ó virgens romanescas
Não é o que abrigaes d'ethereo e virginal:
Adora os corpos nus; as bellas carnes frescas;
Deixando o resto a vós damnados do ideal!
Não vive como nós de candidas mentiras:
Não communga do amor esse illuzorio pão:
Devora com fervor as pallidas Elviras
E em muitos seios bons dá pasto ao coração!
Tem palacios na sombra e fazem-lhe um thesouro
Maior do que o dos reis; adora as solidões:
Não uza d'espadim; não traz esporas d'ouro;
Mas vive como os reis das grandes corrupções!
Flôres sentimentaes! tremei do paladino,
Do velho D. Juan, feroz conquistador,
A quem da vossa bocca um halito divino,
Em vida, faz fugir talvez cheio d'horror;
Mas que um dia virá, na candida epiderme,
Na sagrada nudez dos collos virginaes,
Em hymnos de triumpho—o grande Cezar-Verme!—
Colher o que ficou de tantos ideaes!