Obras de Manoel Antonio Alvares de Azevedo (1862)/Fragmentos de cartas do autor/4 de setembro de 1848

Luiz.

S. Paulo, 4 de septembro.

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Fallas na minha imitação de Ducis. Vejo que entendeste mal o que eu te disse na carta em que te dizia que estava fazendo uma imitação do 5° acto do Othello. A minha imitação é directamente de Shakspeare. Quando se póde ir á fonte, não se bebe agoa nos regos da rua. Está acabada; só o que me falta é resolução de aperfeiçoal-a e emendal-a. É um poema completo, n’um canto só — embora.

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Remetto-te um romance meio em verso e meio em prosa. Não o percas, porque é este o borrão, e tenho tido preguiça de tirar delle copia. — O 1º capitulo (ou o que quizeres) tem em cima — Imitado de Byron. — Não é comtudo imitado, a unica cousa que alli ha de Byron são os dous primeiros versos da Parisina. Aqui está a traducção da descripção do crepusculo de Byron (Parisina) que eu fiz:


      É a hora em que d’entre as ramagens
      Rouxinóes cantão nenias sentidas;
      É a hora em que juras de amores
      Serão doces nas vozes tremidas,

 
      E auras brandas e as agoas visinhas
      Murmurião no ouvido silente;
      Cada flor â noitinha de leve
      Com o orvalho se inclina tremente;

      E se encontrão nos céos as estrellas,
      Sâo as agoas d’azul mais escuro,
      Tem mais negras as côres as folhas,
      Desse escuro o céo vai-se envolvendo
      Docemente tão negro e tão puro
Que o dia acompanha — nas nuvens morrendo,
Qual finda o crepusculo — a lua nascendo.


Compara e vê.

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A toi pour la vie ( — Loco e sempre — como era a divisa italiana do Antony).


Azevedo.