Um lavrador que tinha quatro filhos trouxe-lhes um dia cinco pecegos magníficos. Os pequenos, que nunca tinham visto semelhantes fructos, extasiaram-se diante das suas côres e da fina penugem que os cubria. Á noite o pae perguntou-lhes:
— Então comeram os pecegos?
— Eu comi, disse o mais velho. Que bom que era! Guardei o caroço, e hei de plantal-o para nascer uma arvore.»
— Fizeste bem, respondeu o pae, é bom ser economico e pensar no futuro.»
— Eu, disse o mais novo, o meu pecego comi-o logo, e a mamã ainda me deu metade do que lhe tocou a ella. Era doce como mel.»
— Ah! acudiu o pae, foste um pouco guloso, mas na tua edade não admira; espero que quando fores maior te has de corrigir.»
— Pois eu cá, disse um terceiro, apanhei o caroço que o meu irmão deitou fóra, quebrei-o, e comi o que estava dentro, que era como uma noz. Vendi o meu pecego, e com o dinheiro hei de comprar coisas quando for á cidade.»
O pae meneou a cabeça:
— Foi uma idéa engenhosa, mas eu preferia menos calculo.
— E tu, Eduardo, provaste o teu pecego?
— Eu, meu pae, respondeu o pequeno, levei-o ao filho do nosso visinho, ao Jorge, que está coitadinho com febre. Elle não o queria, mas deixei-lh'o em cima da cama, e vim-me embora.
— Ora bem, perguntou o pae, qual de vós é que empregou melhor o pecego que eu lhe dei?
E os três pequenos disseram á uma:
— Foi o mano Eduardo.
Este no entanto não dizia palavra, e a mãe abraçou-o com os olhos arrazados de lagrimas.