Os pequenos no bosque (edição de 1877)


Um dia tres pequenos iam juntos para a escola, e disseram uns aos outros, que não havia nada no mundo mais aborrecido que estudar: «Vamos para o bosque que encontremos lá toda a especie de lindos bichinhos, que não fazem outra cousa senão brincar, e nós brincaremos com elles.»

Foram logo, e passaram sem fazer caso ao pé da activa formiga e da abelha diligente. Mas o besoiro, que elles convidaram a vir patuscar, disse-lhes:

— Brincar? Preciso construir com estas ervas uma ponte nova, porque a outra já não está solida.»

— Eu, disse o rato, tenho que fazer as minhas provisões para o inverno.»

— Eu, disse d'ali a pomba, tenho muitas cousas que levar para o meu ninho.»

— Eu, disse a lebre, gostava bem de me ir divertir com vocês, mas ainda hoje não lavei o meu focinho. Antes de mais nada, tenho que fazer a minha toilette

E tu, lindo regato, disseram os pequenos desertores, que passas o tempo a saltar e a tagarellar, tambem não queres brincar comnosco?»

— Estes pequenos são tolos, disse o regato. Como? Vocês então imaginam que eu não tenho que fazer? De noite ou de dia, não descanço nem um momento. Tenho que dar de beber aos homens e aos animaes, ás colinas, aos valles, aos campos e aos jardins. Tenho que apagar os incendios, tenho que fazer mover as forjas, os moinhos, as serralherias. Nem hoje acabára, se lhes quizesse contar o que tenho que fazer. Não posso perder um instante. Adeus, adeus. Estou com muita pressa.»

Os pequenos, desconcertados, puzeram-se a olhar para o ar, e viram um pintasilgo, em cima d'um ramo.

— Olha! tu, que não tens nada que fazer, queres brincar comnosco?»

— Nada que fazer? vocês estão a mangar comigo, disse o pintasilgo. Todo o dia tenho que apanhar moscas para comer. Tenho além d'isso que tomar parte no concerto dos passarinhos, tenho que alegrar o operario com o meu chilrear, e tenho que adormecer as creanças com uma outra cantiga, que á noite e de madrugada celebre a bondade do Creador. Ide-vos embora, preguiçosos, ide cumprir o vosso dever, e não tornem a vir incommodar os habitantes das florestas, que cada um tem a sua tarefa a desempenhar.»

Os pequenos aproveitaram a lição, e comprehenderam que o prazer só é ligitimo, quando é a recompensa do trabalho.