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Inveja a noite escura e tenebrosa
A negra côr do teu olhar vibrante,
Espelho d'alma triste e peito amante,
Imagem d'uma estrella radiosa.

O teu olhar de fogo!... E' assombrosa
A luz que espalha ao de redor; distante
Se fôr um dia, caminheiro errante,
Que elle me enxuge a face lacrimosa.

Se além, na campa, os membros já cançados
Eu repoisar ao pé dos tristes lyrios
E dos funereos goivos delicados.

Pago serei então de meus martyrios,
Se, juncto a mim, teus olhos magoados
Forem-me, ali, os derradeiros cyrios.

II

Os olhos que me deram na existencia,
Com seu gentil fulgor de virgindade,
Umas vezes amor, outras saudade,
Renascendo-me a paz na consciencia;

Olhos cheios de vida e de innocencia,
Revivos de perfume e suavidade,
Olhos de tão formosa claridade
Que escurecem do ceu a transparencia;

Talvez sejam ainda os companheiros
Da melodia heroica de meu canto,
Meus amigos sinceros, verdadeiros.

Talvez!... Mas se podér a sorte tanto
Que os affaste de mim, que os derradeiros
Suspiros meus orvalhem com seu pranto.