Ha junto do Parnaso um turvo lago

(Redirecionado de Outro Soneto ao Vil Inseto)

Ha junto do Parnaso um turvo lago,
Aonde em rans existem transformados
Os trovistas de cascos esquentados.
Cerebro frouxo, ou de miolo vago;

Por mais infamia sua, e mais estrago
Doou-lhes Phebo os animos damnados,
P′ra que exprimam os versos desazados
Os seus destinos vis, nos quaes eu cago:

Aqui Bocage vive, e d′aqui ralha,
E co′a tartarea lingua ponti-aguda
Bons e maus, maus e bons, tudo atassalha

É vil insecto, e o genio atroz não muda,
Bem como a escura côr não muda a gralha,
E o hediondo fedor não perde a arruda.

  1. MATTOSO, Glauco. Bocage, o desboccado; Bocage, o desbancado. São Paulo: 2002. Disponível em <http://www.elsonfroes.com.br/bocage.htm. Acesso em: 28 maio 2014.