112 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

observou como se eu tivesse ficado louco, mas então disse hesitante que sim, mas depois entendeu. Então eu agarrei o tesoureiro pelo braço e o arrastei junto com o americano para o quarto de dormir deste. Lá eu os anunciei o plano de esconder uma parte do dinheiro em cédulas na roupa suja do americano, precisamente oitenta contos de réis (= 40.000 marcos), e falar que nós só havíamos trazido cento e vinte contos. Os americanos queriam morrer de rir. O tesoureiro buscou o dinheiro, nós repartimos oitenta contos em notas grandes e as escondemos na caixa velha e suja do americano e avisamos o Dr. Alaro, que estava de acordo com todos e só tinha uma ideia: sair dali o quanto antes. Ao engenheiro do governo nós não dissemos nada a respeito da divisão do dinheiro, mas sim falamos só dos cento e vinte contos, para que ele involuntariamente nos ajudasse a mentir. Tudo saiu como planejado. Enquanto o Dr. Salana, o Dr. Alaro e os americanos negociavam e conversavam ao telefone com Mr. Ryant, eu fiquei o tempo todo sentado ao tabuleiro de xadrez com o próprio secretário, e só de vez em quando lançava uma olhadela para os debatedores. Finalmente foram feitas as pazes. Primeiro o Dr. Salana não quis acreditar que nós tínhamos trazido somente cento e vinte contos, mas aí também o engenheiro do governo o garantiu, ele cedeu e recebeu o seu dinheiro, deu um recibo de que ele havia recebido a quantia “a conto” e retirou-se. Nesse meio tempo, a tarde já havia chegado. Nós tínhamos jogado três partidas de xadrez. Os cavalos e mulas foram preparados e a marcha de volta teve início. Mas os 80 contos nós trouxemos de volta, enrolados no saco feito com o casaco do tesoureiro.