116 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

pelo lugar, onde eles agora se encontravam; e finalmente, seria indiferente se a estação fosse posta um ou dois quilômetros mais adiante ou atrás. O presidente perguntou ao engenheiro-chefe e este não teve coragem de dizer-lhe que infelizmente o lugar escolhido seria ruim, pois uma parte do trajeto teria de ser posto no nível na subida, para isso as subidas que existem antes e depois da estação teriam de ser elevadas consideravelmente. Ele disse então, que mandaria fazer e uma troca de cortesias geral começou, e Thaty foi o herói do dia. Então mais tarde ficamos sabendo que toda aquela terra ali pertencia ao Thaty e que agora ele podia revendê-la a um preço exorbitante. O negócio já valeu o café da manhã.

Eu não gostava dele, pois ele fazia um trabalho muito ruim e então finalmente consegui que o resto do trabalho fosse terminado pela própria empresa. Evidentemente ele não gostava de mim também, mas oficialmente nós tínhamos que nos entender e por isso éramos duplamente corteses um com o outro. Como ele era benquisto por aqui, o engenheiro-chefe deu-lhe o monopólio do fornecimento dos alimentos, especialmente carnes, toicinhos e biscoitos, e tudo a preços exorbitantes. Eu ficava muito irritado, porque os pobres trabalhadores tinham que suportar isso. Tudo bem se pelo menos ele fornecesse boa mercadoria; mas nem isso: a qualidade dos produtos era tão ruim que havia reclamações a todo instante.

Então um dia veio até mim uma comissão dos trabalhadores e trouxeram um pacote de roscas. Elas estavam emboloradas, duras e eram feitas de farinha de milho mofada ao invés de farinha de trigo. Recebi a encomenda e pensei em dar uma lição no amigo Thaty. Como eu sabia que ele iria à cidade com o trem e precisaria voltar hoje, convidei-o para o café. Ele aceitou, pois lhe interessava se dar razoavelmente bem comigo. Botei, então, as tais roscas em uma travessa coberta, e comeu-se e bebeu-se. Thaty, que era um grande gourmet, já estava cobiçando a travessa; finalmente não pode mais suportar sua curiosidade e pediu licença para poder destampá-la. Eu concordei, e ele abriu-a, mas fechou tão rápido como se tivesse sido picado por uma cobra.

“Pelo amor de Deus, o que é isso?”.