118 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

diretor da estação. Um terceiro comprador, que era um “homem de negócios” como Thaty, tinha visto tudo e se aproximou de dele.

“Venda para mim o seu mate!”

“Já está vendido!”

“Não faz mal, o homem não tem o recibo de transporte preenchido e assinado pelo funcionário na mão. Nós vamos até a estação, e o senhor diz que se enganou!”

Thaty olhou admirado para o homem, concordou, e então avançaram até a estação onde descobriram que a nota da mercadoria ainda não estava registrada nos livros. Assim ela foi destruída, pois Thaty declarou ter se enganado, e isto foi confirmado com uma nota de 20 mil réis na mão do funcionário. O terceiro comprador recebeu a nota certa assinada e Thaty recebeu pela terceira vez o dinheiro pelo mesmo mate. Os enganados praguejavam, e todos os outros riram. Thaty foi novamente o herói do dia.

Mas uma vez ele se deixou apanhar, apesar de toda sua esperteza. E mesmo que não precisasse sangrar de forma pecuniária, sangue verdadeiro correu. Isso começou da seguinte maneira: Thaty tinha um contador, italiano também, mas não napolitano e sim calabrês e estes são conhecidos por não deixarem fazer brincadeiras com eles. Os negócios de Thaty não iam tão bem, e nada mais certo do que começar a economizar, e principalmente em casa! Conforme esse louvável princípio, nosso amigo ficou devendo a parte do seu empregado por um, dois, três meses, e por isso havia frequentes brigas. Tudo mais que acontecia entre ele e o contador, só os próprios envolvidos sabiam. Mas um dia a bomba estourou e vimos o contador correr porta afora, sem chapéu, Thaty atrás dele com o revólver na mão, atirando pra cima e fazendo o calabrês correr cada vez mais rápido. Então nosso amigo ficou satisfeito com sua demonstração de coragem, retornou ao seu escritório e sentou-se exausto em sua cadeira. “Porém, com os poderes do destino não se pode tecer uma união duradoura!” Já disse Schiller;[1] e nesse caso foi o calabrês que, com passos de

 

  1. Citação da clássica balada "Das Lied von der Glocke", a Canção do Sino, escrita por Schiller em 1799. (NdT)