Robert Helling | 129
Como o brasileiro faz muita questão que todos os conhecidos e subalternos estejam presentes em um bota-fora, o viajante migra de um braço a outro e conscienciosamente dá os tradicionais abraços.
Quando eu era diretor da Ferrovia Teresa Christina, presenciei um episódio bem sucedido de saudação. A estradinha de ferro se distanciava apenas cento e vinte quilômetros da costa em direção ao interior e tinha dez estações e dezenove paradas! Se a pitoresca locomotiva chegava a entrar em movimento, precisava então interromper seu caminho triunfal em uma singela estação. Contudo, essas paradas não eram equipadas com plataforma ou telhado, mas surgiam apenas como uma simples e quase invisível placa, que trazia o nome da parada. Chegamos na estação de Água Clara... “Tu, tuuu! Fez a convencida máquina e parou. Um fazendeiro com barba branca e ondulada parou com uma boa porção de seus conhecidos ao lado do referido poste. E então começou o cerimonial de despedida! Ele estendeu sua mão ao próximo e.... se abraçaram!... Ambos se deram tapinhas nas costas. Então, passou ao segundo com mais intensidade. A mesma manobra! E ameaçou ir em frente. Fiquei bastante assustado quando vi a longa fila de pessoas a se despedir. Finalmente pulei de meu vagão de serviço, levantei o chapéu e perguntei: “Pois todos esses senhores vieram para dizer adeus da mesma forma?”
“Mas naturalmente!!!”
“Se isso é tão natural para vocês, para mim não é!” Disse e me dirigi ao maquinista ordenando: “Parta agora!”
Então o velho olhou para mim muito irritado, todos seguiram seu exemplo e, finalmente, ele deu lugar ao desagrado com as palavras: “Oh, que allemão desgraçado, que sequer permite que eu me despeça de meus amigos!”
Após essa raiva impotente, ele subiu no trem rapidamente, o que foi possível com uma boa ajuda dos conhecidos, o cavalinho de ferro movimentou-se em câmera lenta e ele embarcou com segurança. Mas ele nunca me perdoou pela grande violação das boas maneiras nas despedidas dos amigos.