Erica Foerthmann Schultz; Márcia Janete Espig | 19

Assim, os próximos quinze capítulos tratam de temáticas como os conflitos entre os imigrantes e os indígenas nas colônias; a construção ou serviços oferecidos pelas ferrovias, sob o foco de análise de seus personagens (maquinistas, trabalhadores ou empreiteiros); episódios curiosos de sua construção ou operação; as características geográficas, climáticas ou naturais da região Sul do Brasil; hábitos ou costumes dos moradores locais; além de eventos históricos, como a Revolta Federalista e o Movimento do Contestado. Sobre esse último episódio, objeto de três capítulos da obra, destaca-se que Robert Helling esteve próximo quando dos ataques rebeldes às estações de São João e Calmon e à serraria da Lumber (setembro de 1914).

A partir do segundo capítulo, a narrativa de Helling afasta-se decididamente de uma incursão meramente autobiográfica. Ao tratar de episódios curiosos ou considerados interessantes, ele nem sempre os localiza temporalmente e não esclarece aspectos importantes de sua biografia, tais como o nome da ferrovia em trabalhou durante a maior parte de sua estadia no Brasil, que sabemos ser a Estrada de Ferro São Paulo — Rio Grande (EFSPRG). Sequer alcançamos detalhes sobre sua família ou filhos. Sobre este aspecto, fica a informação trazida pela dedicatória de sua obra: "Dedicado a minha querida cunhada Emma Helling, nascida Malchow." Alguns dos episódios ou processos narrados não foram vivenciados por Helling, mas são claramente narrativas de outros indivíduos das quais se apropria em seu desejo de apresentar aspectos interessantes de sua estadia no Brasil. Além dos acontecimentos vivenciados pessoalmente, o autor incorpora eventos vividos “por tabela”, ou seja, aqueles vividos pelo grupo ou coletividade que acredita pertencer.[1]

Ainda em 1887, encontramos Robert Helling, supostamente sem a companhia de seu irmão, pois não o menciona, em algum local não identificado do estado do Paraná ou Santa Catarina, realizando a tarefa de uma "grande medição" e tendo sob sua direção os filhos de vários colonos

 

  1. POLLAK, Michel. Memória e identidade social. Estudos históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.