Robert Helling | 35

Era a costa do Brasil. De toda a América do Sul, os alemães só tem noção de dois países: a Argentina com seu trigo e suas ovelhas e o Brasil com o café e os diamantes. Todos pensam: onde há tanta riqueza, um pouco vai sobrar para eu e meus filhos podermos viver. E sem precisar pagar impostos, sem necessidade de carvão, livre da eterna tutela das autoridades alemãs, como deve ser bom viver por lá, além disso, a enorme fertilidade do solo virgem! Mas como sempre: onde há muita luz, há também muita sombra. A riqueza do Brasil, na maior parte, ainda é inexplorada, e os capitais para tanto precisam vir da América do Norte e Europa. O colono precisa pagar muito pouco ou quase nada de impostos, mas indiretamente ele paga talvez mais do que na Alemanha, pois os artigos de consumo são muito caros; ele não precisa de carvão, mas em compensação sofre com o calor; é livre da tutela das autoridades alemãs, mas em compensação não desfruta de benefícios como auxílio saúde, seguro desemprego, etc... Sobre o solo fértil certamente cresce tudo muito bem, mas também a erva daninha, e é preciso um trabalho fatigante para arrancá-la. Poucos passageiros tinham noção desses inconvenientes enquanto agora, de hora em hora, dia após dia, a terra se aproximava, ora mais próxima, ora mais distante. O navio raras vezes navegava sem ter uma visão da costa e quando se via as palmeiras sobre as brandas colinas acenarem com suas delicadas e gigantescas folhas, parecia como uma saudação do país mágico. Os mapas foram estudados fervorosamente, pois o nosso navio não atracou em parte alguma, além do seu destino São Francisco. Já havíamos deslizado pela cálida Bahia, pela maravilha do Rio de Janeiro, pelo porto cafeeiro de Santos e finalmente estávamos em São Francisco. O vapor ficou um pouco para fora, pois seu calado não permitiu atracar no baluarte. Decepção geral, pois já haviam forjado planos de tudo o que nós íamos fazer no passeio em terra. Um berlinense parou ao meu lado e cuspiu a bordo. "Água suja e atrás um pouco de terra", opinou ele desdenhosamente. Eu me apoiei na balaustrada, olhei de cima para a balbúrdia de barcos que circundavam o navio e meus pensamentos vaguearam de volta à casa paterna e ao futuro distante, que subitamente