36 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

estava tão próximo de nós, e um sentimento incômodo crescia em mim, por não conhecer aqui viva alma, quando, de repente, de um dos barcos lá embaixo meu nome foi chamado no mais perfeito dialeto de Berlim: “Ah, Helling, você também está aqui?” Eu olhei para baixo e lá estava meu amigo Karl atirado em um dos botes, o mesmo amigo com o qual eu ia à escola. Como este mundo é pequeno! Karl havia emigrado dois anos antes de mim, eu só não sabia para onde.

Durante a noite nós ficamos ainda a bordo; no dia seguinte por volta do meio dia íamos embarcar em um pitoresco vapor que nos levaria a Joinville. O vapor estava superlotado e um dos emigrantes perguntou ao timoneiro, se não havia nenhum bote salva-vidas, pois navegávamos pela grande baía como se estivéssemos em mar aberto, e somente ao longe se viam algumas ilhotas. Mas o timoneiro riu ironicamente e respondeu em belo dialeto: “Eu também nunca me afoguei!” O calor era sufocante e o vaporzinho pôs-se em movimento, mas não tinha pressa, e a passo de lesma fomos adiante. Os passageiros nativos que se encontravam a bordo foram bombardeados com perguntas e, já que a maioria falava alemão, as mais inacreditáveis façanhas foram contadas e acolhidas pelos novatos em parte com pavor, em parte com escárnio. Mas sob uma temperatura de trinta e cinco graus, por fim, a mais fantástica lorota deixa de ser interessante.

Da baía aberta entramos lentamente em um canal cada vez mais estreito, e finalmente parecia-se com um rio, cujas margens, entretanto, nós não podíamos ver, pois árvores e taquaras formavam uma parede verde. “Meu Deus, quanto mosquito!”, reclamou um sério alemão de Holstein, e realmente, quanto mais nós penetrávamos no crepúsculo verde do rio, mais demônios alados apareciam zumbindo em volta de nossas cabeças. Um homem da tripulação nos informou que esses adoráveis bichinhos não seriam os perigosos mosquitos, mas sim pernilongos, e por enquanto seriam só os Pernas Longas, mas em frente nos tornaríamos conhecidos dos mosquitos pólvore quando o vapor ficasse parado no rio. Surgiu um tumulto geral. “Nós devemos ficar aqui nesta geringonça a noite inteira e