Robert Helling | 47

mantimentos eram enviados de longe por animais de carga. Dessa forma, o filho de um colono recebeu uma carta e, muito ansioso, correu até a barraca para abri-la. Dali a pouco percebemos um terrível grito, como um uivo selvagem, como se viesse de um animal selvagem nas proximidades, de modo que todos escutaram assustados. Visto o som parecia vir da barraca, mandei um homem até lá e deixei que espiasse o que ocorria. Mas este voltou imediatamente branco de pavor e pediu que eu fosse rápido ver com meus próprios olhos o que havia acontecido.

O espetáculo que presenciei era sinistro. Franz estava deitado sobre o chão, o rosto virado para o solo e as mãos tensamente agarradas ao chão, onde ele gemia como um gato selvagem, em seguida gritou de modo selvagem: “Todos estão mortos, todos estão mortos!”. Ajudamos o infeliz a se levantar tão bem como podíamos, mas ele só foi capaz de esclarecer o motivo de seu lamento horas depois: os Botocudos atacaram a colônia de seu pai, assassinaram seu pai, sua mãe e seus quatro irmãos, mataram o gado e roubaram ou destruíram os poucos bens que não valiam a pena carregar.

Já que nosso trabalho urgia, não pude me demorar com o pobre rapaz, então deixei seu melhor amigo com ele, o qual à noite me contou sobre Franz e seu destino. Este ficou se lamentando e se queixando durante horas, até que de repente ficou muito calmo e não deu mais nenhuma resposta, totalmente ensimesmado. Então, também fui até ele e o encontrei em um estado totalmente letárgico, no qual ele não participou e parecia estar ausente de espírito. Na manhã seguinte, ele veio até mim e me pediu seu pagamento, visto que precisaria ir embora para cumprir um dever. Em resposta a minha pergunta sobre o que ele pretendia fazer, primeiro encontrei apenas um olhar estranhamente rígido e pasmo de seus olhos; mas então veio de seus lábios uma confissão, como que extorquida de uma força sinistra, que ele daqui em diante precisaria vingar os mortos. Isso soou tão natural e evidente, que não achei nada de estranho nisso. Mas receava que o jovem rapaz pudesse com isso cometer uma imprudência, que a primeira calamidade fosse seguida de uma outra, e o questionei