48 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

sobre como ele pensava em realizar seu plano. Sua resposta foi do mesmo modo surpreendente e tranquilizante para mim; ele queria se juntar imediatamente aos “bugreiros” (caçadores de bugres) e junto a eles realizar a vingança. Com isso, seus olhos se iluminaram com algo estranhamente demoníaco, que eu até então não tinha observado no jovem bondoso e sereno e me subjugou de tal maneira, que não arrisquei mais nenhuma objeção e o deixei seguir seu caminho.

Os citados caçadores de bugres foram criados nessas regiões fronteiriças da civilização para casos de necessidade. Em geral, eram brasileiros que também já tinham sofrido um ataque surpresa dos bugres. Eles eram caçadores que conheciam a fundo todos os mistérios e pavores da selva e por fim isto se tornou um esporte para os caçadores de gente. Eles eram de uma crueldade e desumanidade que não ficava atrás dos pobres índios. É verdade que o governo condenava essas caçadas indignas aos seres humanos, mas como ele mesmo não era capaz manter os selvagens sob controle, se contentava apenas em fazer protestos por escrito.

Três meses se passaram sem que tivéssemos notícias de Franz. Então, um dia ele apareceu e pediu um emprego, o que lhe foi concedido imediatamente de volta. Mas como se transformou esse homem! Ele estava dez anos mais velho; estava esquelético, dava a impressão de ser uma múmia viva; seu corpo era cheio de cortes e pústulas e seu olhar antes tão ingênuo se tornou inconstante. Ele não falava com quase ninguém, fazia sua obrigação conscienciosamente e respondia a cada pergunta de forma rude e mal-humorada, assim que tive a impressão de que ele mesmo não estava satisfeito com sua vingança. Mas não dirigi a ele nenhuma pergunta, na pressuposição de que seria mais inteligente deixar em paz alguém com estado de espírito tão perturbado e que o desabafo de sua alma aconteceria à medida que ele se restabelecesse.

E a última hipótese se concretizou mais rápido do que eu pensava. Visto que Franz era um dos mais hábeis desbravadores de floresta e possuía um sentido de orientação fortemente desenvolvido, tratei de levá-lo comigo na maioria das vezes em que precisava sondar o terreno. Durante