Robert Helling | 55

cabelos prateados através do talo e da folha da erva barba de bode. Chegamos a um platô alto, e de repente o trem parou. O condutor da locomotiva pegou de um canto uma bela espingarda, assobiou para seu cachorro e saltou do trem.

“O senhor não vai caçar por aqui, vai?”.

“Mas é claro! Nós fazemos isso sempre”.

“Mas chegaremos a tempo no cruzamento?”.

“Evidentemente; pois o condutor do trem contrário também está caçando, e nós não ficaremos parados mais do que meia hora”.

Dito e feito; e em meia hora o amigo Gabriel havia abatido uma Perediz e cinco Cadornas.

Outro dos nossos maquinistas era um descendente de polonês. A ambição deste rapaz perturbado era dirigir rápido, e isso nesse trajeto que de modo algum era seguro. “A máquina tem que correr e o maquinista morrer!”, este era o seu lema. Repetia esse dito constantemente e finalmente também o realizou; pois certa vez passou por uma ponte provisória de madeira, que estava danificada, com tamanha velocidade que tombou junto com a locomotiva e uma parte dos vagões, onde o maquinista ficou preso na lama junto com a locomotiva. Tiramos a máquina com muito esforço, mas ele, mesmo durante o trabalho, ficou tão profundamente imprensado embaixo da máquina que não conseguimos encontrar.

Ainda tínhamos o famoso Jorge Pistola. Na verdade ele tinha outro nome, mas ninguém conhecia. Cada três palavras suas dizia “Pistola”, assim como o bávaro fala sakra e o inglês goddam, daí o nome. Era um rapaz muito engraçado, pequeno e gordo. Eu viajei uma vez com ele na locomotiva; repentinamente ele tirou o boné e amigavelmente saudou para fora. Eu também olhei para fora, mas não vi uma alma. Isso se repetiu de tempos em tempos, até que finalmente perguntei lhe que fantasma ele sempre cumprimentava. “Mas senhor Roberto!”, respondeu, “Eu não cumprimento ninguém, só tiro o boné para o meu santo em todos os lugares que tive algum descarrilamento muito sério e ele me protegeu, para que eu ainda possa comer o meu feijão”.