Robert Helling | 57

quase nenhuma palavra foi entendida. De repente — o que é isso? Um solavanco que todos caímos para trás, um apito agudo da locomotiva que pareceu dar um pulo para frente, e depois corremos a todo vapor, de modo que a máquina e os vagões eram sacudidos de lá pra cá e um grito de horror geral ressoou. O chefe gritou para mim, eu berrei para o maquinista, fui até a janela, saquei o revólver e dei dois tiros para cima em sinal de parar; pois freios a ar e esses brinquedinhos modernos nós não possuíamos. Mas a jornada infernal continuava a toda velocidade. Logo depois da ponte há uma curva para a esquerda. O chefe estava gesticulando e — no momento seguinte ele estava sentado no colo do diretor que é pressionado com suas costelas contra uma cadeira. Um dos convidados sentou-se no chão. Estávamos subindo morro acima. As coisas foram mais devagar. Por fim, um solavanco e o trem para, já estou na escada e mal o trem para, corro pra frente. Lá está Jorge, descendo lentamente da máquina e vindo ao meu encontro. “O senhor é um jumento!” Gritei com ele e na minha aflição até falei em alemão. “Como o senhor pode atrever-se a dirigir tão perigosamente quando teve instruções detalhadas?”. O chefe chega e começa a praguejar e uma tempestade cai sobre o gordo Jorge, como se ele tivesse matado alguém. Os próprios convidados tomaram parte nas reprimendas. O diretor continua sentindo dores em seu quadril e fala pomposamente. E Jorge? — ele está no meio das pessoas que gritam e gesticulam, retorce seu boné nas mãos e calmamente senta no chão resignado; para mim parece até que ele sorri um pouco, ainda que somente com o canto da boca. Finalmente o diretor dirige-se a ele como uma divindade punitiva.

“Diga-me sinceramente meu filho, o que te levou a desprezar as ordens e dirigir como um louco, podendo ter até causado o desabamento da ponte?”

Jorge levantou os olhos. Todo acanhamento fugiu do seu rosto.

“Sim, excelência, como a ponte começou a ranger e a gemer, eu senti nos meus próprios ossos e pensei que a coisa tinha desmoronado. E de repente foi como se meu santo gritasse para mim: ‘Jorge, salva tua