60 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

Diante de mim estavam parados quatro espanhóis, com a barba feita e limpos. Em volta do corpo eles usavam uma faixa de lã colorida, de dois metros de comprimento, que ao mesmo tempo servia de cinto e para guardar o cigarro e a faca. Usavam a camisa aberta, de forma que dava pra ver o peito cabeludo. Não tinham grande estatura, mas eram bem proporcionados; jovens de vinte a vinte e cinco anos.

Bon dia!”

Bon dia! Não querem entrar?”.

Hesitantes aceitaram o convite, mas não sentaram, mesmo assim convidei-os novamente. Em vez disso um deles com uma bela cabeleira crespa avançou um passo e disse, como porta-voz do grupo: “Senhor, nós temos um assunto muito delicado e pedimos que Vossa Excelência nos ouça pacientemente”.

Como eu conhecia o complicado jeito dessas pessoas, então lhe assegurei que seus assuntos eram do meu completo interesse e, assim, ele começou:

“Como o senhor sabe, nós cinco assumimos o grande trecho do quilômetro 23, mas como a Companhia não permitiu que nós cinco figurássemos como capatazes, então elegemos o mais velho do nosso grupo, o Evarista, como chefe. E ele, como tal, tem que receber todo o dinheiro para o pagamento dos salários. Mas, como nós descobrimos que ele não pagará a nossa parte, e ainda quer fugir com o dinheiro; infelizmente precisaremos esfaqueá-lo antes. Nós só gostaríamos de pedir ao senhor para dar um jeito de recebermos nosso dinheiro imediatamente, para não termos longos transtornos com a polícia. O senhor não precisa repetir o que nós lhe dissemos agora em total confiança; pois pode acreditar que despacharemos o patife, o Evarista, tão bem que não poderão recair suspeitas sobre nós”.

Eu acordei completamente com essa amigável confissão e assegurei a ele que honraria extraordinariamente sua confiança, mas talvez houvesse ainda outros meios de receber o dinheiro suado, sem que precisassem sujar suas mãos com sangue. Por exemplo, eu poderia