"O trem não poderá seguir em frente!”, anunciou-me o diretor da estação ferroviária.
"E por que motivo?”
“A Estação São João, que fica a duas paradas, informou que os Fanáticos provavelmente assaltaram Calmon, a parada seguinte”.
“Provavelmente, provavelmente! O que isso quer dizer? Eu preciso saber exatamente o que a estação informou!"!
“Está bem, o diretor da estação de Calmon telegrafou apenas três palavras, e então o aparelho ficou mudo a todas as tentativas de chamadas posteriores."
"Quais eram as palavras? Fale de uma vez!"
"Eu já estava mesmo por dizer; mas o senhor não me deixa terminar de falar."
"Pois então!”
“A estação de Calmon telegrafou para a estação de São João: 'Fanáticos aqui, eu...' E nenhuma palavra a mais".[1]
O pequeno e inquieto diretor da estação calou-se exausto, enquanto eu começa a pensar na situação. Portanto, os Fanáticos! Um fenômeno bem peculiar na vida do povo brasileiro! Muito sangue já foi derramado por causa deles, e muito dinheiro já foi gasto para trazê-los à razão. Segundo a concepção europeia, poderíamos talvez dizer que se trata de uma
- ↑ Os ataques às estações de Calmon e São João da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande (EFSPRG) ocorreram entre os dias 05 e 06 de setembro de 1914. Análise detalhada dos mesmas encontra-se em ESPIG, Márcia Janete. Personagens do Contestado: os turmeiros da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande (1908-1915). Pelotas: Editora Universitária/UFPel, 2011. p. 234-251. (NdH)