82 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

americanos estavam na plataforma de observação do último vagão, quando um deles descobriu vultos furtivos passando silenciosamente pelos arbustos e disparou seu enorme Colt. Assim que o tiro retumbou uma saraivada do arbusto no outro lado do brejo cortou o silêncio. Dois soldados caíram e se contorceram agonizantes no chão. O capitão esperou tranquilamente o ataque inimigo parar, sem soltar seu pequeno cachimbo da boca. Os soldados deitaram no chão e começaram a atirar no inimigo invisível que estava escondido atrás dos arbustos. Os americanos saltaram do trem e fugiram pelos trilhos. O capitão assobiou e gritou para os soldados atirarem mais devagar, pois cada um possuía apenas cinquenta balas; porém só alguns seguiram as ordens, os outros continuaram atirando sem parar, enquanto os fanáticos, todos trilheiros e caçadores, concentraram o fogo na locomotiva. O maquinista saiu do seu posto e protegendo a cabeça com as mãos saltou no meio do carvão no tênder; o foguista, um mulato de aparência selvagem, pulou para a alavanca de controle e a posicionou em marcha ré e lentamente o trem começou a regressar. Gräml colocou seu revólver na testa dele e o obrigou a fazer o trem voltar à linha de tiro. Um dos técnicos ferroviários que se encontrava na máquina levou um tiro na perna e não poderia ficar ali, pois os soldados-enfermeiros estavam em um vagão com seus parcos materiais de primeiros-socorros. Gräml entregou seu revólver ao outro técnico que estava com eles e recomendou-o a matar o foguista caso ele tentasse se aproximar novamente da alavanca de vapor. Então colocou o ferido nas costas e o carregou-o sob fogo inimigo até onde estavam os soldados. Em seguida virou-se para retornar à locomotiva quando o trem pôs-se em movimento com um solavanco, de forma que ele instintivamente pulou no degrau do vagão, enquanto o trem regressava numa velocidade cada vez maior, deixando o capitão e seu pessoal abandonados a própria sorte. Gräml saltou de vagão em vagão até a máquina, mas no tênder o maquinista meio enlouquecido sorria ironicamente para ele e apontando-lhe o revólver dizia que não deixaria ninguém ir até a máquina e que não queria morrer. Gräml não conseguiu avistar o técnico, que teria sido expulso da locomotiva, como constatou mais tarde.