Robert Helling | 85

corpos dos mortos ainda estavam nos ataúdes; então um soldado saltou em cima de um montinho e fez um discurso ardoroso no qual ele proclamava os méritos dos mortos, mas começou a falar dos inimigos e exigia desforra de uma maneira terrível, e agora indicou com ênfase selvagem em direção a prisão próxima, onde alguns fanáticos ainda estavam presos, de repente rompeu uma gritaria que nem parecia mais humana. Então um grito: “Armas, armas!” - e num instante os soldados romperam de volta ao quartel, retornando em seguida a praça, cada um com uma arma qualquer na mão. Alguns poucos tinham espingardas, outros meramente baionetas brilhantes em punho e agora a multidão se encaminhava à prisão debaixo de uma gritaria ensurdecedora. O médico militar havia ficado ao meu lado, de repente ele arrancou e gritou: “Salvarei os prisioneiros!”, e vi sua forma insinuante desaparecer na multidão. Agora os primeiros já haviam atingido a prisão e impetuosamente ansiavam por sua abertura. Os soldados-policiais fugiram horrorizados. Machadas estalavam com estrondo contra o portão. Uma viga utilizada contra ele, que logo se abriu de todo. A multidão invadiu rapidamente. O Dr. Scylla igualmente alcançou a prisão, infiltrara-se pela porta dos fundos que os policiais fugitivos haviam deixado aberta. Nesse ponto a revolta enfureceu-se de forma mais selvagem. Com pressa ele abriu seu caminho em direção à cela dos prisioneiros. Cada soldado queria ser o primeiro a saciar a sede de sangue empurrando uns aos outros, duas espingardas surgiram prontas para atirar, quando subitamente em frente às grades, apareceu o tão conhecido uniforme do jovem médico que destemidamente mostrou o peito ao alvo das espingardas, “vocês são homens? São brasileiros? Ou serão bestas? Primeiro uma bala no meu peito e só depois nos prisioneiros! A vida de um prisioneiro inimigo é sagrada!”, por dois segundos a multidão fitou o valente e então lentamente se retirou; e minutos depois o lugar estava vazio.