94 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

“Seus chorões!” Bufei eu imponente. “Nadar vocês não podem, mas guiar uma canoa, todos conseguem muito bem! Quem de vocês senta sobre essa jangada, pega esta segunda ripa como remo e busca a canoa?”

Novamente um silêncio constrangido e então mil pretextos e desculpas! Eu involuntariamente lembrei-me do poema “O Mergulhador”[1] de Schiller ao ver estes valentes cavaleiros e escudeiros parados em volta sem coragem de entrar no abismo. Ficou claro para mim que eu não podia contar com esses heróis, então, meio contra a vontade, decidi tentar eu mesmo. Em primeiro lugar eu meti a mão na água corrente para testá-la. Uh, com os diabos, como estava fria! Eu estimei que dificilmente teria mais do que seis ou sete graus. Mas não tinha jeito. Então eu me despi até a camiseta de baixo e mandei a embarcação ser trazida para a água. Ela boiou perfeitamente. Mas coragem, vamos lá. Eu montei sobre aquela coisa oscilante e em seguida mergulhei as pernas na água gelada. Huuuuuuu! Sob o meu comando: “Já” os valentes e homéricos companheiros empurraram a jangada, de modo que ela veio comigo para a correnteza. Mas... que raios, o que estava acontecendo? Eu afundava cada vez mais e mais. Primeiro eu mergulhei as coxas, então, muito lentamente mergulhei também os prolongamentos da minha espinha dorsal. Uhhhhhhh, literalmente me correu um frio na espinha! Um banho de assento bem deplorável nesta sopa gelada! Talvez eu tivesse utilizado poucas taquaras, de modo que elas não suportaram o meu peso, ou elas eram em parte permeáveis e permitiram que a água entrasse nas câmaras de ar. Resumindo, era uma situação extremamente desagradável. Além de eu precisar remar com toda a força para que a correnteza não me arrastasse consigo. Mais adiante a jangada esticou o seu focinho intrometido para fora das águas, igual a um golfinho que espreita, enquanto eu, um segundo Arion[2], tomava o meu banho involuntário sentado sobre as costas da besta. Mas Arion pôde pelo menos tocar a sua harpa, mas eu precisei

 

  1. Referência a uma conhecida balada sobre um corajoso mergulhador escrita por Friedrich Schiller. (NDT)
  2. Figura mitológica grega que escapa da morte por afogamento, salva por um golfinho enquanto cantava um hino de louvor a Apolo. (NdT)