Vinha subindo a escada de comunicação com a cozinha uma mulher idosa, em mangas de camisa, meias azuis de lã e ourelos achinelados. Pediu licença para entrar, fez uma mesura de joelhos sem curvar o tronco, e perguntou:

— Vossa Majestade passou bem?

— Optimamente, Senhorinha, passei muito bem.

— Estimo muito, Real Senhor. O Senhor Abade foi chamado às oito horas para confessar uma freguesa que está a morrer de uma queda, e deixou dito que pusesse o almoço a Vossa Majestade, se ele não chegasse às nove e meia.

— Quando quiser, Senhorinha, quando quiser, visto que o abade deu essas ordens e quem manda aqui é ele.

Da cozinha vaporava um perfume de salpicão frito com ovos. Sua Majestade farejava com as narinas anelantes num forte apetite. A criada voltou com toalha, guardanapo, louça da índia, talheres de prata, e uma travessa coberta. Sua Majestade, muito familiar, tirou de sobre a mesa uns cadernos escritos, cosidos com seda escarlate, e um grande tinteiro de chumbo com penas de pato.