e não interrompia nunca os desatinos, maçadas, e até as tolices de quem quer que fosse. E ouvia muitas. Este padre obscurecido na sua paleografia que lhe dava oito tostões por dia, naquela asquerosa alfurja chamada Rua de S. Sebastião, com o aljube à esquerda e as imundícies da Pena Ventosa à direita, era o impulsor, a alma, o cérebro do gigante miguelista nas províncias do Norte. A Junta de Lisboa consultava-o. Ribeiro Saraiva enviava-lhe de Londres os elementos para os seus cálculos, pedia-lhe conselhos; e D. Miguel escrevia-lhe frequentemente. Dizia-se que o príncipe proscrito o elegera bispo ou patriarca de Lisboa — não me recordo qual era a mitra.

A sua presença venerável impunha sem artifício; uma grande bondade obsequiadora; não proferia palavra ofensiva dos seus adversários políticos; não aceitava donativos dos seus correligionários; vivia com severa parcimónia dos seus 800 réis havidos da Santa Casa, e morreria de penúria antes de pedir ao governo liberal a paga