A CHAVE DO TAMANHO:
UMA GUERRA DE VERDADE E UMA CHAVE DE MENTIRINHA
Marisa Philbert Lajolo[*]

“Diz o Neves que você gostou d’A Chave do Tamanho.
Isso me deu prazer. A Chave é filosofia que gente burra não entende.
É demonstração pitoresca do principio da relatividade das coisas.”
(Carta de 1.2.1943 a Godofredo Rangel).[1]

Por que apresentar A Chave do Tamanho, obra de Monteiro Lobato (1882-1948) destinada a um público infantil, a historiadores?

Uma obra infantil, publicada na década de 1940 do século passado (a primeira edição do livro é de 1942), poderia trazer mais esclarecimentos sobre a Segunda Guerra Mundial? Talvez possa; mas, muito mais do que isso, pode nos sugerir como a década de 40 via a Segunda Guerra. Pode também nos dizer como um episódio contemporâneo de um escritor é transformado em criação literária.

Além de fornecer informações sobre eventos aos quais se referem, os textos literários estabelecem relações com a época em que foram produzidos. Cada período imagina o seu passado de forma diferente. Não há passado, mas passados, já que em qualquer texto, mesmo histórico ou literário, moram milhares de autores, discursos, filosofias, espaços e épocas, que também colaboram para a presentificação do assunto de que se ocupa o texto.

É a partir desses pressupostos que esta breve análise de A Chave do Tamanho pretende discutir possíveis relações desse livro de Monteiro lobato com a Segunda Guerra Mundial e, a partir daí, da Literatura com a História.

Monteiro Lobato – escritor, advogado, jornalista, empresário, editor, adido comercial do Brasil em Nova York, pioneiro na luta pela nacionalização do petróleo – tornou-se figura importante dentro e fora do cenário cultural brasileiro, destacando-se no campo literário. Sua produção, constante ao longo de toda sua vida, foi reunida e publicada pela

Proj. História, São Paulo, (32), p. 371-383, jun. 2006
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