Trata-se de um quase apocalipse. Mas Emília defende a “reforma”, vendo como positiva a extinção das armas criadas pelo progresso: “A vida agora vai começar de novo – e muito mais interessante. Acabaram-se os canhões, e tanques, e pólvora, e bombas incendiárias” (p. 44).

Diante da impossibilidade do retorno à “antiga ordem”, Emília e toda humanidade dão início à busca pela sobrevivência, através da tentativa de adaptação a um novo modo de viver. Ao longo da narrativa, observam-se diversos pontos negativos da “antiga ordem”, a ordem dos “tamanhudos” – segundo ela. A boneca, já com o status de gente e, portanto, também miniaturizada, torna-se o próprio símbolo da nova ordem gerada pela redução do tamanho. Ela consegue adaptar-se aos novos problemas impostos pela pequenez, valendo-se sempre da inteligência. E se a humanidade estava condenada a viver “pequena”, Emília mostra que apesar de o homem ter perdido o seu tamanho, não perdera a capacidade de reflexão.

A “nova ordem”, que surge com o “apequenamento” é também defendida por uma outra personagem do livro, o Dr. Barnes, professor de Antropologia da Universidade de Princeton. A cidade dirigida por ele – Pail City – representa um modelo de sociedade adaptada ao novo tamanho. Todos lá começam a se organizar para descobrirem métodos de sobrevivência em um meio que, antes, era apenas habitat de pequenos animais.

A representação de Pail City é, assim, uma maneira de mostrar os benefícios da extinção de uma ordem, fundada na violência e na competitividade. Regressando à era anterior ao fogo, com a inteligência e os conhecimentos de agora, seria possível repensar valores da sociedade antiga e o caminho pelo qual a busca pelo poder estaria conduzindo a humanidade?

Para Lobato talvez, para Emília com certeza

A “antiga ordem” havia fracassado aos olhos de Emília, e tal fracasso evidenciava-se pela guerra – o homem se autodestruía bem como a “todas as coisas criadas pela própria civilização” (p. 45). Destarte, a redução do tamanho permitiria ao homo sapiens redirecionar o progresso de sua espécie, progresso que deveria se efetuar de maneira o mais próxima possível da ordem natural.

A idéia de “ordem natural” – recorrente no livro – cria uma oposição entre a “nova” e a “antiga” civilização ocidental. Expressa em obra de 1942, essa idéia parece destoar de outras, expressas em obras e cartas anteriores. Em 1942, a crítica social de Lobato não se restringe ao Brasil, mas estende-se pelas sociedades industriais, anteriormente tão admiradas pelo autor, como exemplifica a carta que, em 26.6.1927, de Nova York, Lobato escreveu a seu cunhado Heitor de Moraes:

Proj. História, São Paulo, (32), p. 371-383, jun. 2006
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