A esperança
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ENCANTOS DA NATURESA
 

 
A MINHA QUERIDA AMIGA D. FLAVIA DOMETILLA DE A. M. G.

Como è bello, amiga minha,
A natura contemplar!
Vér um Deus Omnipotente,
Dar-nos encantos sem par!

Nas lindas noites d'estio.
Depois que se esconde o sol,
Ouvir doces harmonias
Do mimoso rouxinol!

Vêr o tepido outomno,
am Das folhas tudo despir,
Tirar-lhe primeiro a cor,
Depois fazel-as cahir.

Nas manhãs da primavera,
Pela briza bafejadas,
Ver as rosas vecejantes
Co'o orvalho rociadas.

Ver como o prado se enfeita
C'o matiz de lindas flores.
Ver toda a terra cobrir-se
Com manto de varias côres...

Ver a humilde violeta,
Na propria rama perder-se;
Como a virgem vergonhosamu
Que a todos quer esconder-se.

A madre-silva cheirosa,
Dispersa pelas campinas,
Entrelaçar sua rama,
Com as mimosas boninasl

Ver ostentar orgulhosas
As camelias no jardim,
Formar perfeito contraste
Com o singelo jasmim.

Ver as aguas dos regatos,
Com os seixinhos brincar,
Lá nos frondosos salgueiros
Os rouxinoes escutar!

Essas noites de janeiro,
Tão formosas, tão brilhantes!
Quando ha no firmamento
Milhares d'astros scintillantes!...

Quando nas aguas do rio,
Vem brincar a argentea lua,
Doirando o manto da noite.
Com toda a puresa sua!

Nessas horas de silencio,
E que falla o coração;
E sente-se a alma vôar
Em sublime aspiração,

P'ra esse Ente que p'ra nós,
Tanta bellesa creou;
Tanta ventura e delicias
Cá no mundo nos deixou!..

Deus mandou a nossa vida,
Por caminhos só de flôres;
Porém nós, pobres mortaes,
Juntamos-lhe acerbas dores!...

Como é bello, amiga minha
A natura contemplar!
Ver um Deus Omnipotente
Dar-nos encantos sem pár.

 

 
A Toureira
 

 
(HISTORIA D'UM CORAÇÃO FRIO)
(De pag. 159)
IV

A noite continua serena em seu colmear de sonhos. Quantos infelizes, no coração dos quaes, o sol introduzira um riso d'escarneo, se embalam agora, ainda que ficticiamente na rede esplendida do prazer e da riqueza, do amor da ventura?

Sonhar!.. Quantos filhos legitimos da infelicidade procuram adormecer a imaginação, fechando a vista ás pompas do dia, para n'este laborar intimo do pensamento, enganar a alma nas aspirações, que revoluteam sômente, nas brisas que o mundo sopra? E quantos desventurados pranteam o dia de hontem, amarguram o de hoje, e olham descrentes para a aurora que vem surgindo?

Mas n'este povo não ha, como em todos os outros, olhos magoados, que procurem esconder as amarguras do coração, Sonha velando, vela, recebendo na fronte as orvalhadas serenas da noite, adormece ao primeiro regorgitar