A ESTRELLA DO SUL

191


ao primeiro movimento que elle fizesse, a cobra mordia-o com toda a certeza!

Mas, no meio d'aquella anciedade e indecisão de todos, Bardik tratou de salvar a situação. Desembainhou sem fazer barulho a faca de mato do seu amo, e foi-se chegando a James Hilton com movimentos quasi insensiveis, que pareciam de um verme. Depois collocou os olhos quasi ao nivel da serpente, e durante alguns segundos esteve a estudar com cuidado a posição do perigoso reptil. Estava com certeza procurando descobrir em que sitio estava a cabeça do animal.

De repente levantou-se rapidamente, abaixou logo o braço, e a folha da faca foi morder com um golpe secco o joelho de James Hilton.

— Póde deixar cair a bicha!... Está morta! disse Bardik escancarando a bôca a rir e mostrando os dentes todos.

James Hilton obedeceu machinalmente e sacudiu a perna... Caiu-lhe aos pés o reptil.

Era uma vibora de cabeça preta, de uma pollegada de diametro apenas, mas que com a mais pequena mordedura produz a morte. O joven cafre decapitára-a com maravilhosa precisão. A calça de James Hilton mostrava só um golpe de seis centimetros, e a epiderme nem de leve tinha sido offendida.

Cousa singular, e com que Cypriano se indignou muito: James Hilton nem sequer se lembrou de agradecer ao seu salvador. Vendo-se livre de perigo, achava naturalissima aquella intervenção. Não lhe vinha a idéa de apertar a mão negra de um cafre e dizer-lhe: «Devo-lhe a vida».

— Vossê tem a sua faca bem afiada! — foi só o que elle lhe disse, ao passo que Bardik a tornava a embainhar, sem parecer tambem dar grande importancia ao que acabava de fazer.

O almoço não tardou a vir apagar as impressões d'aquella noite tão agitada. N'esse dia compunha-se elle de um unico