deixasse mergulhar dentro as mãos, colher ouro, e partir para Paris!...

Mas, para a snr.ª D. Patrocinio, Paris era uma região ascorosa, cheia de mentira, cheia de gula — onde um povo sem santos, com as mãos maculadas do sangue dos seus arcebispos, está perpetuamente, ou brilhe o sol, ou luza o gaz, commettendo uma relaxação. Como ousaria eu mostrar á titi o desejo immodesto de visitar esse lugar de sujidade e de treva moral?...

Logo no domingo porém, jantando no Campo de Sant’Anna os amigos dilectos, aconteceu fallar-se, ao cozido, d’um sabio condiscipulo do padre Casimiro que recentemente deixára a quietação da sua cella no Varatojo, para ir esposar, entre foguetes, a trabalhosa Sé de Lamego. O nosso modesto Casimiro não comprehendia esta cubiça d’uma mitra, cravejada de pedras vãs: para elle a plenitude d’uma vida ecclesiastica era estar assim aos sessenta annos, são e sereno, sem saudades e sem temores, comendo o arrozinho do forno da snr.ª D. Patrocinio das Neves...

— Porque deixe-me dizer-lhe, minha respeitavel senhora, que este seu arroz está um primor!... E a ambição de ter sempre um arroz d’estes, e amigos que o apreciem,